Mostrar a catástrofe que se abateu sobre Blumenau em imagens é fácil. Basta clicar e baixar no computador, disponibilizando-as na internet. Falar sobre ela, talvez nem tanto. Como este blog busca levar opinião e informação, nesta ordem, tentarei contar para o Brasil e mundo o que se passa por aqui...
CENÁRIO DE GUERRA
Caminhões e tanques do Exército nas ruas, helicópteros sobrevoando a cidade, as sirenes dos veículos de bombeiros e ambulâncias cortando o ar. Lama por todos os lados nas áreas atingidas (que não são poucas), pedaços de morro que vieram abaixo devido aos deslizamentos de terra, galhos de árvores nos lugares menos prováveis, casas e muros no chão, portões arrancados pela correnteza. A visão de Blumenau, hoje, é de um cenário pós guerra.
CATÁSTROFE
Blumenau tem know how em enchentes. Desde sua fundação, em 1850, foram 84 enchentes (ver nota Números, mais abaixo). Mas nunca tivemos enchente, enxurrada e desmoronamentos ao mesmo tempo e nesta intensidade. Com isso, toda a experiência em lidar com elas não tem sido suficiente para atender a demanda com a rapidez necessária. Os relatos de momentos de desespero são agoniantes. Pessoas doentes, idosas, ilhadas... mulheres dando a luz sem poder chegar a um hospital... desmoronamentos em cima de asilos... pessoas no telhado das casas pedindo pelo socorro de uma canoa que não chegava...
Esta catástrofe tem tudo para ser a mais traumática de todas as dificuldades do gênero enfrentadas pela cidade até hoje.
SOTERRAMENTO
Na segunda-feira, 24, quando a água começava a abaixar e muitos já faziam a limpeza parcial (tirando o grosso do lodo) do interior de suas casas, um soterramento na rua José Reuter (bairro da Velha Central) cobriu 15 casas completamente. O local não era área de risco, mas um pacato loteamento horizontal. A notícia chocou a cidade.
EMOÇÃO
Não é raro ouvir ou ver pessoas se emocionarem ao testemunharem, nas emissoras de rádio e tevê, o que estão presenciando nesta catástrofe. Um senhor, ao contar sobre este soterramento, chorou copiosamente. Autoridades municipais ao darem entrevista e pedir por ajuda aos desabrigados também vão às lágrimas. Blumenau vive um momento ímpar, que todos gostariam de esquecer.
DESABRIGADOS
São centenas de famílias que estão alojadas em abrigos (são 48. Blumenau tem isso e a solidariedade nesses momentos como know how de inúmeras enchentes pelas quais já passou desde sua fundação), onde faltam colchões, cobertores e alimentos. Apesar do esforço de todos, está difícil até mesmo locomover-se com segurança para tentar ajudar. A lama faz os carros deslizarem na pista.
IMPRESSIONADO
O prefeito João Paulo Kleinübing, de apenas 34 anos, recém reeleito, viu muita coisa nesses poucos dias. Mas pelo menos dois fatos foram marcantes: no domingo teve que sair pela janela do carro que estava quando uma enxurrada atingiu o veículo; na segunda chorou ao ver o soterramento na rua José Reuter.
Terá um novo desafio a partir de agora: reconstruir a cidade. Será, sem dúvida, a sua maior obra.
LIMPEZA DAS CASAS
Ainda que a chuva não tenha parado totalmente, as pessoas que tiveram suas casas atingidas pelas águas já começaram a limpeza das mesmas. Fui auxiliar meu pai na dele. Não é fácil. Além da perda de móveis e utensílios, a limpeza tem que ser feita com a própria água barrenta, pois há racionamento. Dá apenas para tirar o grosso. O cheiro de humidade e a desolação de ver o lodo dentro de casa é indescritível. Sorte que sempre há amigos e vizinhos dispostos a dar uma mão. E isso não é nada perto do prejuízo de vidas que se foram em outras famílias.
AO NORMAL
É difícil dizer quando a cidade conseguirá voltar ao normal. O abastecimento de luz e água devem estar normalizados somente no final de semana. Mas as escolas particulares já anunciam sua disposição de tentar voltar ao normal na quinta-feira, 27. A Rede Municipal de Ensino anuncia a volta para dia 28, sexta. Blumenau tentará retomar sua rotina, depois de tanta desgraça. Porém o blumenauense herdou do povo alemão a tenacidade. Reergueu a cidade outras vezes, não será diferente agora.
ABUSADOS
Posto de gasolina majorando o preço dos combustíveis (de R$ 2,59 para 2,99 o litro da gasolina, por exemplo) e mercadinhos que conseguiram abrir as portas cobrando o dobro pelos alimentos demonstram que nem todo mundo é sério, solidário e honesto em Blumenau. Foram denunciados e o Procon promete agir com rigor, assim que tiver condições para isso.
POLÍTICA, NÃO
Tem político se aproveitando do cargo eletivo para fazer tour em emissoras dando entrevistas... sinceramente, não é hora.
SOLIDARIEDADE
O blumenauense é muito solidário nessas horas, mas a confusão generalizada está dificultando doação e chegada de mantimentos aos abrigos e famílias que precisam de ajuda. Talvez fosse a hora de grupos fortes e organizados como os gincaneiros e grupos de stammtisch mostrarem sua ação recolhendo esses donativos e, com a colaboração de outras organizações como o Jeep Clube de Blumenau (que desde os primeiros momentos já está nas ruas), fazerem chegar as doações até o destino.
NÚMEROS
A parte mais fria deste acontecimento são os números. Eles transformam a dor em estatística, mas nossa sociedade já não consegue mais viver sem eles, pois servem como parâmetro (dizem que vivemos a sociedade da estatística...): Até agora são 13 mortes em Blumenau e mais de oito mil desabrigados. Em Santa Catarina são 65 mortes e 52 mil desabrigados. Mas há gente desaparecida, ainda.
MAIS NÚMEROS
Desde sua fundação, em 1850, esta é a 84a. enchente que a Blumenau sofre. As maiores marcas são de 1852 (16m30cm), 1911 (16m90cm), 1983 (15m34cm) e 1984 (15m46cm). Em 1928 e 1973, a cidade foi castigada quatro vezes a cada ano por enchentes. Em 1992, três vezes. Nesta, a marca chegou a 11m54cm. Mas, como já coloquei em nota anterior, a tragédia foi bem maior do que o nível das águas. ÚLTIMO NÚMERO
Às 10 horas de hoje, 25, o nível do rio já tinha baixado para 7 metros.
ESFORÇO
Há um batalhão de pessoas trabalhando para que a população atingida seja socorrida ou sofra o menos possível. Cumprimentando a Defesa Civil de Blumenau, fica o reconhecimento a todos os que estão nesta luta de forma incansável desde os primeiros momentos de agonia.
Até a próxima...