Estamos
todos comovidos chorando a morte de rapazes, jovens jogadores de futebol,
dirigentes da Chapecoense e de jornalistas esportivos. Se pensar no sofrimento
de uma família enlutada já dói, multiplicar isto por 71 dilacera o coração de
qualquer pessoa com sentimentos. Se somarmos a isto que o pesar é por atletas e
uma instituição que se tornou orgulho do futebol catarinense e colocou o nome
de Santa Catarina no cenário do futebol sul americano, chegam a ser tratados
como heróis. Heróis mortos. Mas tudo isso já sabemos. Quantas vezes já nos
emocionamos nas últimas horas assistindo esta tragédia pela tevê ou nas redes
sociais?...
Nosso
coração chora e acaba fazendo isto verter pelos olhos. Porém, o que mais dói é
verificar que a versão que se anunciava lá atrás como especulação a ser
investigada, agora se desnuda como a mais pura e absurda verdade. Não foi uma
simples tragédia. Foi um crime. Um crime de irresponsabilidade. Muito antes das
investigações oficiais já se sabe o que mostrava-se óbvio: 71 pessoas morreram
por absoluta falta de seriedade de uma empresa de fretamento aéreo chamada
Lamia. Isso aprofunda a tristeza. Joga-a ao mais profundo poço, porque agora
sabemos que todas essas mortes eram plenamente evitáveis. Elas não precisavam
acontecer.
Aqueles
meninos jogadores de futebol que vestiam verde, seus dirigentes que tão bem
comandavam a Chapecoense dentro e fora de campo e todos os jornalistas
esportivos que nos encantavam com suas reportagens, narrações e comentários
foram mortos pela irresponsabilidade, ganância e total incompetência de uma
empresa de fretamento aéreo. E aí o choro transforma-se em revolta.
Desde
as primeiras horas do trágico crime, já se falava em falta de combustível. Logo
em seguida, pilotos comentavam o tipo de aeronave que tinha autonomia de tanque
mal e mal para fazer o trajeto origem-destino daquele voo. O plano de voo era
totalmente irregular. O piloto era também sócio da empresa safada. Depois
chegaram informações de que há sanções pesadas para piloto e empresa que
provocam uma “emergência” dessas, ainda que conseguissem pousar. Os interesses
comerciais falaram mais alto do que 71 vidas.
Chapecó,
Santa Catarina e o futebol brasileiro continuarão chorando as mortes dos
representantes do Verdão do Oeste. A crônica esportiva e os amantes do futebol
continuarão chorando a perda daqueles que levavam alegria a todos através do
esporte. O mundo esportivo continuará atônito com tanto sofrimento evitável.
Mas a verdade dos fatos mostra que mais do que nosso choro, mais do que a
comoção nacional, é preciso ficar indignado com o crime cometido pela empresa
Lamia.
Eles
mataram aqueles meninos artistas da bola e seus protetores. Eles mataram. Um
crime que deve ser punido com todo rigor, pois não é possível que outros
morram, no futuro, por irresponsabilidade e ganância. Enquanto a cidade de
Chapecó vela seus mortos, estará pensando que nada disso seria necessário, que
nada disso seria preciso.
Já soube de aviões comerciais, de carreira, que
sofreram acidentes... nunca soube de um que tenha sido por falta de
combustível. Acidentes só podem ser assim chamados quando o imprevisível muda
uma trajetória, o totalmente inusitado modifica um resultado. Não foi o que
aconteceu com o avião que levava a Chapecoense. Não foi um acidente aéreo
comum. Foi assassinato! A troca da segurança por ganhos financeiros a mais.
De
toda tragédia, no entanto, por mais doída que seja, é preciso tentar buscar
algum ensinamento, alguma lição. Assim como depois da tragédia que vitimou mais
de 200 vidas em uma casa noturna da gaúcha cidade de Santa Maria. No meu modesto ponto de vista, o ensinamento a ser aprendido agora é o cuidado que devemos
ter quando contratamos um prestador de serviço – e não só para voar. Milhares
de ônibus fretados cortam nossas rodovias todos os dias. Qual a condição, a
responsabilidade, o modus operandi e
a idoneidade dessas empresas? Milhões de
crianças são transportadas todos os dias por vans escolares particulares. Quem
está prestando este serviço para nossas crianças?
Contratar
serviços por preço, camaradagem ou falta de pesquisa pode fazer o barato sair
caro. Enquanto não formos mais criteriosos, mais investigativos, mais conscientes
em nossas escolhas, poderemos colocar nossas vidas e a vida das nossas pessoas
mais queridas em risco. Pense nisso.
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