quarta-feira, 13 de abril de 2016

DE ONDE VEM O GOLPE?


Esta será uma semana tensa em Brasília. De sexta-feira até domingo, deve ser votado o processo de impeachment da presidente (sim, com e, como manda a boa língua portuguesa) Dilma Roussef. Todos estão cansados de saber por que o impedimento da presidente está em pauta. Juridicamente, por causa das “pedaladas fiscais” que ela promoveu, politicamente por causa das mentiras deslavadas da última campanha eleitoral, economicamente para tentar salvar o país.

O governo está investindo forte (milhões de reais) na compra de apoio político no Congresso Nacional. Os próprios parlamentares do PT chamam de “recomposição da base”. Claro que o ato de compra de votos contra o impeachment é absurdamente antiético, mas... e daí?  Diante de tudo que vimos nos últimos anos, com mensalão, Petrobrás, corrupção para financiamento de campanhas presidenciais... o que não é? Estamos anestesiados. Por muito menos, em um país sério, o governo seria tirado do poder na marra.

Porém, cada um faz seu jogo. A única dúvida possível de ser levantada pelos governistas é a questão jurídica. É ela que, constitucionalmente, define se o impeachment é possível ou não. Política e economicamente, todos sabem que o impedimento é a salvação do país. Mas esses dois aspectos não são pré-requisito básico para derrubar um(a) presidente. E é aí que vemos a primeira cisão entre poder e estadismo. Dilma e o PT querem se manter no poder, ainda que a nação toda pague um preço alto (que já está pagando) por isso.

Todo mundo sabe que a credibilidade de um governo afeta diretamente a economia do país. A falta de perspectivas e a bandalheira da corrupção, por exemplo, fizeram o dólar passar de R$ 4,00 e a inflação ultrapassar os dois dígitos. Foi só haver a possibilidade de impeachment e o dólar já recuou. Porém a indefinição político-administrativa que se arrasta deixa o mercado instável. A população está empobrecendo e quem tem dinheiro não investe mais. Pelo menos até que possa vislumbrar momento melhor. O que assusta é que a possível permanência do atual governo não dará a tranquilidade necessária ao mercado, aprofundando a crise econômica que está estagnando o Brasil.   


Em recente reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo (Estadão), 282 brasileiros perdem o emprego por hora. São 282 pessoas sem salário, sem perspectivas, sem dignidade. Se você levar normais 10 minutos para ler este texto, 47 pais e mães de família estarão recebendo a notícia de que não precisam voltar ao trabalho nos próximos dias. Terão dificuldades para criar seus filhos, pagar as contas, atrasarão prestações...

Cálculos do Estadão apontam para 12 milhões de desempregados até o fim do ano. Teremos uma Portugal só de pessoas sem emprego. Isto seria razão suficiente para um estadista renunciar ao cargo em respeito à nação, dar fôlego ao país, fazer um último esforço para tentar dar uma chance às pessoas. Mas seria esperar demais de um político que se elegeu mentindo, que se beneficiou de financiamento de campanha através de corrupção e conluio com empresas prestadoras de serviço sob o manto da legalidade da licitação, que tem muito mais apego pelo poder do que pelo bem estar das pessoas – como muitos e muitos políticos deste país, diga-se de passagem. Para ter este desprendimento, precisaria ser estadista, pensar primeiro no país e seu povo.

A oposição ao governo Dilma garante que há crime de responsabilidade e preceitos legais para derrubar a presidente. O governo e seus aliados defendem que não. No meio do ‘juridiquês’ necessário para que o impeachment seja legalmente aceito, fica a certeza de que ele é fundamental para a retomada da economia, para que haja um fôlego para que o mercado volte a ter esperanças no país, para que as pessoas parem de perder seus empregos e para que deixemos de afundar cada vez mais no lamaçal de falta de ética e pudor que nos leva para o mais profundo dos poços.

O impeachment vai resolver todos os problemas brasileiros?  Claro que não. Precisamos mudar a cultura da população, de uma reforma política de verdade (e só um parlamento específico para isso a fará), de apoio institucional e popular para as investigações da Polícia Federal, Tribunais de Contas, Ministério Público, procuradorias, Justiça e todos os organismos que tem como função punir crimes de colarinho branco... precisamos repaginar o país. Porém, é necessário dar um passo de cada vez, um atrás do outro (pois o caminho é longo) e o primeiro passo é tirar um governo que não tem mais a mínima credibilidade para comandar os destinos do país.


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