segunda-feira, 18 de abril de 2016

A LIMPEZA AINDA NÃO ACABOU


O Brasil ficou ligado na votação pela admissibilidade do impeachment, ontem. Tanto os cidadãos favoráveis, contrários ou os que não tinham posição bem formada acabaram cedendo aos encantos de uma sessão plenária longa e engraçada, mas não menos importante. Ao final, 367 deputados disseram sim à possibilidade de impedimento e queda da presidente Dilma do cargo.

Não faltaram ‘memes’ nas redes sociais durante a votação. Tanto a presidente quanto o ex-presidente Lula foram os alvos preferidos. Mas a fantástica criatividade dos brasileiros não poupou grande maioria dos deputados que utilizaram os 30 segundos de fama para eternizar o momento do voto declarado ao microfone (vídeo que provavelmente será utilizado na próxima campanha).

Concordo com muitos ‘amigos de facebook’ que não há razões para comemorar. O brasileiro está envergonhado da situação em que se encontra, que ultrapassa o fato de termos um governo federal corrupto, mas também muitas lideranças corruptas no Congresso Nacional. Porém, o primeiro mal, o mal maior precisava ser estirpado. Ideologias à parte, o sistema de corrupção engendrado a partir da Petrobrás para financiar campanhas políticas é de uma podridão assustadora. Isto aliado às mentiras da campanha eleitoral da atual presidente trouxeram a consequência avassaladora: economia em retração, inflação e Petrobrás quebrada.

Aos petistas e simpatizantes, fica a lição. A arrogância ideológica e a sede pelo poder fazem mal ao Brasil. A ideologia não pode estar acima da ética. Seu projeto social de poder se perdeu no caminho. Muitos petistas do início, como o próprio jurista Hélio Bicudo (que subscreveu a ação de impeachment ora em curso), envergonham-se do que se transformou este projeto – agora só de poder. Aos demais políticos ou simpatizantes partidários fica o aviso: o Brasil pode mudar a partir de instituições que não se corromperam como um todo. A população está mais atenta e se une ao combate à bandalheira.

Em tempo: aos que ainda acham que era “golpe”, pensando como a massa de manobra que seguiu as palavras de ordem do esquema de discurso imposto pela cúpula do PT, sugiro a leitura do artigo 85, inciso V, da Constituição Brasileira.

Momento em que a votação pró-impeachment chegou aos 342 votos necessários

Ainda faltam alguns passos para que este NÃO à corrupção promovida pelo PT seja real. O processo vai para o Senado que, primeiro, confirma ou não a admissibilidade do pedido de impeachment. Para isso, será necessária tão somente a maioria simples dos votos. Depois o mesmo processo vai para uma segunda votação no próprio Senado da República, que decidirá pelo afastamento da presidente. Para isso, no entanto, serão necessários 2/3 dos votos dos senadores.

Quando todo este processo acabar, se enganam os que acreditam que o problema estará resolvido. Há muita gente corrupta em Brasília (e não só lá), especialmente (mas não só) em partidos políticos que até bem pouco tempo eram aliados do esquema e agora estão votando pelo impeachment da presidente. A varredura dos maus políticos precisa ser uma constante e, ao finalizar este processo, é preciso mirar em outros políticos sabidamente corruptos que estão sob investigação. E, depois, abrir investigação sobre todos os suspeitos que, se comprovada participação em esquemas de corrupção, também devem ser afastados, independente de sigla partidária.


Eu sei. É quase uma utopia. Mas quando a população começou a ir às ruas se manifestar, iniciou o movimento da faxina. Era preciso começar em algum momento e este momento está acontecendo. É agora! Tal qual uma faxina em casa, começa-se por um cômodo e vai se avançando para os outros até que a casa fique limpa. O trabalho não termina com a queda do PT no governo federal. Este é o cômodo mais sujo, mais ‘encracado’, mais nojento de nossa casa, mas está longe de ser o único. A limpeza está apenas começando e vai ser longa, dura, trabalhosa... e votar direito nas eleições vai ajudar a não sujar mais a casa enquanto a faxina é feita. Façamos, cada um de nós, a nossa parte. 

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Recebi este texto de última hora e resolvi colocá-lo para finalizar este post. Acredito que retrata muito bem a situação que vivemos agora no Congresso Nacional, derrubando argumentos de quem não conhece ou só vê um lado da história dos fatos:

A história se repete com detalhes muito semelhantes nos dois casos

Jair Bolsonaro votou pela abertura do impeachment de Fernando Collor em 1992. Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin também. Roseana Sarney e Sarney Filho votaram da mesma forma. Eram todos então deputados federais.

Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara do Deputados, cargo que pertence hoje a Eduardo Cunha, votou a favor. Ibsen foi cassado poucos meses depois por participar do Escândalo dos Anões do Orçamento - sofreu uma denúncia falsa da revista Veja, mas teve movimentações bancárias que não conseguiu explicar. Foi condenado a ficar afastado da vida pública por oito anos (o processo em que era acusado de sonegação fiscal foi arquivado anos depois). Na primeira eleição em que pode voltar a concorrer, em 2002, não se elegeu.

Os deputados Carlos Benevides, Fábio Raunhetti, José Geraldo e Raquel Cândido também votaram a favor do impeachment de Collor. Todos eles perderam seus mandatos poucos meses depois, envolvidos em esquemas de corrupção.

Cid Carvalho, Genebaldo Correia e Manoel Moreira também tiveram seus mandatos cassados por corrupção, mas renunciaram antes, em 1994. Todos votaram a favor do impeachment de Collor.

Sérgio Naya seguiu o mesmo voto, em defesa do impedimento. Foi cassado cometendo uma imensa lista de crimes, revelados após o desabamento do edifício Palace II, no Rio de Janeiro. Naya possuía milhares de imóveis em diversos países, uma dezena de carros de luxo e três jatinhos. Vivia numa cobertura de mil metros quadrados e era famoso por "ceder" imóveis para que uns 40 amigos e políticos vivessem gratuitamente - tal qual Lula diz ter vivido no sítio de Atibaia.

Todos esses caras eram favoráveis ao impeachment. Todos seguindo o mesmo voto de figuras como os então deputados José Dirceu, José Genoíno e Luiz Gushiken, petistas que entrariam no goto da história, envolvidos nas mais variadas falcatruas.

Em 1992, Collor sofreu um impeachment justo nas mãos de um Congresso sujo. Isso, no entanto, não foi motivo para que movimentos sociais e estudantis, sindicatos, centros acadêmicos, classe artística, imprensa e a esquerda em geral simplesmente deixassem de lutar pelo impedimento do presidente. Ter defensores da ditadura e políticos corruptos do lado pró-impeachment não era razão suficiente para que os então deputados Aloizio Mercadante, Jandira Feghali, Aldo Rebelo, Benedita da Silva, Florestan Fernandes e Miguel Arraes deixassem de dar seus votos favoráveis ao impeachment. Tampouco foi motivo para que Lula não apoiasse a causa.

Agora, você pode continuar usando esse argumento em 2016, negando defender o impedimento de Dilma porque ele é arquitetado por políticos corruptos - e ignorando o cenário vivido em 1992. Mas a verdade é que só estará deixando explícito aquilo que todo mundo já sabe: você não leu as páginas dos livros de história que você jura ter monopolizado a leitura.


- Rodrigo da Silva, editor do Spotniks.

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