O
Brasil ficou ligado na votação pela admissibilidade do impeachment, ontem.
Tanto os cidadãos favoráveis, contrários ou os que não tinham posição bem
formada acabaram cedendo aos encantos de uma sessão plenária longa e engraçada,
mas não menos importante. Ao final, 367 deputados disseram sim à possibilidade
de impedimento e queda da presidente Dilma do cargo.
Não
faltaram ‘memes’ nas redes sociais durante a votação. Tanto a presidente quanto
o ex-presidente Lula foram os alvos preferidos. Mas a fantástica criatividade
dos brasileiros não poupou grande maioria dos deputados que utilizaram os 30
segundos de fama para eternizar o momento do voto declarado ao microfone (vídeo
que provavelmente será utilizado na próxima campanha).
Concordo
com muitos ‘amigos de facebook’ que não há razões para comemorar. O brasileiro
está envergonhado da situação em que se encontra, que ultrapassa o fato de
termos um governo federal corrupto, mas também muitas lideranças corruptas no
Congresso Nacional. Porém, o primeiro mal, o mal maior precisava ser estirpado.
Ideologias à parte, o sistema de corrupção engendrado a partir da Petrobrás
para financiar campanhas políticas é de uma podridão assustadora. Isto aliado
às mentiras da campanha eleitoral da atual presidente trouxeram a consequência
avassaladora: economia em retração, inflação e Petrobrás quebrada.
Aos
petistas e simpatizantes, fica a lição. A arrogância ideológica e a sede pelo
poder fazem mal ao Brasil. A ideologia não pode estar acima da ética. Seu
projeto social de poder se perdeu no caminho. Muitos petistas do início, como o
próprio jurista Hélio Bicudo (que subscreveu a ação de impeachment ora em
curso), envergonham-se do que se transformou este projeto – agora só de poder.
Aos demais políticos ou simpatizantes partidários fica o aviso: o Brasil pode
mudar a partir de instituições que não se corromperam como um todo. A população
está mais atenta e se une ao combate à bandalheira.
Em
tempo: aos que ainda acham que era “golpe”, pensando como a massa de manobra
que seguiu as palavras de ordem do esquema de discurso imposto pela cúpula do
PT, sugiro a leitura do artigo 85, inciso V, da Constituição Brasileira.
Momento em que a votação pró-impeachment chegou aos 342 votos necessários
Ainda
faltam alguns passos para que este NÃO à corrupção promovida pelo PT seja real.
O processo vai para o Senado que, primeiro, confirma ou não a admissibilidade
do pedido de impeachment. Para isso, será necessária tão somente a maioria
simples dos votos. Depois o mesmo processo vai para uma segunda votação no
próprio Senado da República, que decidirá pelo afastamento da presidente. Para
isso, no entanto, serão necessários 2/3 dos votos dos senadores.
Quando
todo este processo acabar, se enganam os que acreditam que o problema estará
resolvido. Há muita gente corrupta em Brasília (e não só lá), especialmente
(mas não só) em partidos políticos que até bem pouco tempo eram aliados do
esquema e agora estão votando pelo impeachment da presidente. A varredura dos
maus políticos precisa ser uma constante e, ao finalizar este processo, é preciso
mirar em outros políticos sabidamente corruptos que estão sob investigação. E,
depois, abrir investigação sobre todos os suspeitos que, se comprovada
participação em esquemas de corrupção, também devem ser afastados, independente
de sigla partidária.
Eu
sei. É quase uma utopia. Mas quando a população começou a ir às ruas se
manifestar, iniciou o movimento da faxina. Era preciso começar em algum momento
e este momento está acontecendo. É agora! Tal qual uma faxina em casa,
começa-se por um cômodo e vai se avançando para os outros até que a casa fique
limpa. O trabalho não termina com a queda do PT no governo federal. Este é o
cômodo mais sujo, mais ‘encracado’, mais nojento de nossa casa, mas está longe
de ser o único. A limpeza está apenas começando e vai ser longa, dura,
trabalhosa... e votar direito nas eleições vai ajudar a não sujar mais a casa
enquanto a faxina é feita. Façamos, cada um de nós, a nossa parte.
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Recebi este texto de última hora e resolvi colocá-lo para finalizar este
post. Acredito que retrata muito bem a situação que vivemos agora no Congresso
Nacional, derrubando argumentos de quem não conhece ou só vê um lado da história
dos fatos:
A história se repete com detalhes muito semelhantes nos dois casos
Jair Bolsonaro votou
pela abertura do impeachment de Fernando Collor em 1992. Aécio Neves, José
Serra e Geraldo Alckmin também. Roseana Sarney e Sarney Filho votaram da mesma
forma. Eram todos então deputados federais.
Ibsen Pinheiro, então
presidente da Câmara do Deputados, cargo que pertence hoje a Eduardo Cunha,
votou a favor. Ibsen foi cassado poucos meses depois por participar do
Escândalo dos Anões do Orçamento - sofreu uma denúncia falsa da revista Veja,
mas teve movimentações bancárias que não conseguiu explicar. Foi condenado a
ficar afastado da vida pública por oito anos (o processo em que era acusado de
sonegação fiscal foi arquivado anos depois). Na primeira eleição em que pode
voltar a concorrer, em 2002, não se elegeu.
Os deputados Carlos Benevides,
Fábio Raunhetti, José Geraldo e Raquel Cândido também votaram a favor do
impeachment de Collor. Todos eles perderam seus mandatos poucos meses depois,
envolvidos em esquemas de corrupção.
Cid Carvalho, Genebaldo
Correia e Manoel Moreira também tiveram seus mandatos cassados por corrupção,
mas renunciaram antes, em 1994. Todos votaram a favor do impeachment de Collor.
Sérgio Naya seguiu o
mesmo voto, em defesa do impedimento. Foi cassado cometendo uma imensa lista de
crimes, revelados após o desabamento do edifício Palace II, no Rio de Janeiro.
Naya possuía milhares de imóveis em diversos países, uma dezena de carros de
luxo e três jatinhos. Vivia numa cobertura de mil metros quadrados e era famoso
por "ceder" imóveis para que uns 40 amigos e políticos vivessem
gratuitamente - tal qual Lula diz ter vivido no sítio de Atibaia.
Todos esses caras eram
favoráveis ao impeachment. Todos seguindo o mesmo voto de figuras como os então
deputados José Dirceu, José Genoíno e Luiz Gushiken, petistas que entrariam no
goto da história, envolvidos nas mais variadas falcatruas.
Em 1992, Collor sofreu
um impeachment justo nas mãos de um Congresso sujo. Isso, no entanto, não foi
motivo para que movimentos sociais e estudantis, sindicatos, centros
acadêmicos, classe artística, imprensa e a esquerda em geral simplesmente
deixassem de lutar pelo impedimento do presidente. Ter defensores da ditadura e
políticos corruptos do lado pró-impeachment não era razão suficiente para que
os então deputados Aloizio Mercadante, Jandira Feghali, Aldo Rebelo, Benedita
da Silva, Florestan Fernandes e Miguel Arraes deixassem de dar seus votos
favoráveis ao impeachment. Tampouco foi motivo para que Lula não apoiasse a
causa.
Agora, você pode
continuar usando esse argumento em 2016, negando defender o impedimento de
Dilma porque ele é arquitetado por políticos corruptos - e ignorando o cenário
vivido em 1992. Mas a verdade é que só estará deixando explícito aquilo que
todo mundo já sabe: você não leu as páginas dos livros de história que você jura
ter monopolizado a leitura.
- Rodrigo da Silva, editor do Spotniks.
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