quarta-feira, 29 de outubro de 2014

OS BRASIS QUE PODEM DAR CERTO


Passada mais uma eleição, o país se bipolarizou entre vitoriosos arrogantes e derrotados magoados. Isto é uma pena. Independente de quem vencesse a eleição – e quem recebeu mais votos, quase óbvio, foi quem tinha o grande poder nacional nas mãos – todos sabem que a vida não será fácil nos próximos anos. As decisões tomadas ao longo do tempo na macroeconomia trazem resultados a curto, médio e longo prazo. Os bons ventos do curto prazo se foram. Os economistas garantem que vem aí a tempestade dos demais prazos. Porém, a leitura que quero fazer nem é essa.   
 
Parece-me óbvio que é impossível fazer funcionar um país imenso como este, com a renda praticamente centrada em Brasília, onde nossos eleitos vivem aproveitando do bom e do melhor e utilizam nosso dinheiro da forma que melhor lhe convém para permanecer no poder. Em um país deste tamanho, fica fácil negar conhecimento sobre um rombo na maior estatal do lugar – a tal Petrobrás – ou mesmo difícil saber sobre um ato de corrupção federal em uma cidade do interior. Será sempre muito mais complicado tentar administrar um gigante que adormecido pouco colabora e acordado tende a tropeçar nas próprias pernas, do que governar países menores onde o poder está mais perto do povo e vice e versa.

Já escrevi em outros artigos que um dos erros do Brasil foi Brasília, que colocou o poder longe do povo. A ‘Ilha de Lost’ tupiniquim blinda os eleitos e os fazem viver em um mundo de sonhos, distanciado da realidade. Agora, vou mais longe. Para que o Brasil dê certo, precisava ser dividido em cinco ou seis países. Com menor extensão territorial, maior controle da sociedade, mais atenção às reais necessidades e anseios da população e menos distanciamento da comunidade e seus representantes, as chances de que vários ‘brasis’ dessem certo seria imensamente maior.

Historicamente é muito fácil defender esta tese. É só ver o tamanho dos mais desenvolvidos países do mundo. Os grandes países, em tamanho, tendem a ser maiores ainda em problemas – e bem menores em índices de desenvolvimento social. Aí um desavisado pode tentar argumentar que os EUA, de grande extensão territorial, são sinônimo de sucesso. Menos. Em primeiro lugar porque possuem problemas sociais enormes. Em segundo lugar porque não se pode compará-lo ao Brasil. Lá, os estados funcionam como entidades autônomas e o dinheiro dos impostos que vai para o governo central (federal) é percentualmente muito menor do que aqui.

Ainda calcado na história, é fácil entender que o Brasil(zão) que conhecemos é facilmente corrupto. Está na cultura do povo e de seus líderes. Começou quando Pedro Álvares Cabral ‘comprou’ os índios com miçangas brilhantes, aprofundou quando a família real veio para cá em 1808 para levar nossas riquezas embora e continuou como parte da odiosa cultura de um povo. Aqui, a imensa maioria reclama dos benefícios errados ofertados aos outros, mas aceitaria na hora e se calaria se o benefício fosse a ele oferecido.  Isto faz prever que reformas políticas de verdade e uma imensa e também necessária reforma tributária (onde o cidadão pague menos impostos e os tributos sejam efetivamente melhor distribuídos entre as esferas federal, estadual e municipal) é uma total utopia. No máximo, com muito boa vontade, haverá uns remendinhos que chamarão de minirreforma para colocar na mídia e aplacar a fúria dos formadores de opinião – porque o povo, mesmo, pouco sabe, conhece ou se importa com a macrogovernabilidade.

Com todo este furacão de realidade, não tenho dúvidas de que somente a divisão do país em cinco ou seis países – ou mais – poderia dar alguma esperança de melhoria para o país (no caso, os países) e seu povo. Enquanto isso, teremos pessoas revoltadas acreditando que votar em branco ou anular o voto é o auge da inteligência protestante, mais de 20% de abstenção em eleições que definem os governantes e muito, mas muito trabalho para pagar cerca de 30% de seu esforço e suor para o estado. Isso é muito mais do que pensar em separatismo. É falar sobre governabilidade e possibilidade de dias melhores para todos os que habitam este país chamado Brasil.


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