Era uma vez um reino muito bonito chamado Sapolândia. Nele havia muito verde e era repleto de lagoas.
Claro que por esta razão é que os sapos lá se arregimentavam e criaram seu
reino. Porém, na Sapolândia havia sapinhos infelizes. Alguns chamavam o
reino de brejo e criavam polêmica em torno de toda e qualquer proposta,
criticavam e coaxavam muito por qualquer ideia de mudança.
Até que um dia, meia dúzia
de saltitantes sapinhos que trabalhavam para o governo da Sapolândia resolveram
entrar em greve. Não
era a primeira daquele reino, mas a mais sem noção. Os sapinhos líderes do
movimento nunca haviam sido tão bem tratados por um governo quanto aquele.
Conseguiram liberar mais sapinhos sindicalistas para ficar à disposição do
sindicato pula-pula. Conseguiram liberar os sapinhos que trabalhavam para o
reino para participar do dobro do número de assembleias durante o ano sem
descontar o dia não trabalhado. Conseguiram uma série de vantagens para os
sapinhos empregados do reino. Mas na hora da data-base do reino da Sapolândia,
esqueceram tudo.
Está certo que sapos não
são muito bons em gratidão e reconhecimento. Não fosse assim, não seriam tão
feios. Quem conhece aquela outra fábula chamada “Festa no Céu”, sabe bem por que
são como são. Os líderes anfíbios queriam mais: queriam aumento do número de
mosquitos disponíveis para suas bocarras muito maior do que os mosquitos
disponíveis no reino. Conseguiram convencer meia dúzia de sapinhos incautos e,
linguarudos, fizeram-lhes a cabeça. Coaxaram, Coaxaram, Coaxaram por dias
seguidos nos ouvidos dos incautos vislumbrando dias melhores, com fartura de
mosquitos para todos. Juravam que o governo do reino da Sapolândia tinha
mosquitos de sobra guardados em seus cofres escuros.
O que os sapinhos incautos
não sabiam é que os líderes pula-pula conheciam a realidade e dificuldade do
reinado em arrumar mosquitos para aquelas bocarras. Mas prometeram mundos e
fundos. Garantiram que os mosquitos mensais de sempre estariam disponíveis para
a bocarra de cada sapo no primeiro dia útil do mês, quando o reino disse que
cortaria o suprimento de mosquitos dos sapos que aderiram ao movimento e não
prestaram a contrapartida de seus serviços: coaxar à beira do brejo. O que não
disseram, é que eles, os líderes, estavam com sua quantidade de mosquitos
garantida, inteirinha, intacta.
Bateram as patinhas
dizendo que nenhum sapinho com contrato temporário poderia ser dispensado por
causa da greve. Aliás, o que a sociedade do reino da Sapolândia simplesmente
não entendia, era porque os temporários estavam na greve, visto que não tinham
direito a nenhum benefício reclamado pelos líderes pula-pula. Ainda assim,
engrossavam o cantar da turma à beira da lagoa. Muitos, porém, voltaram ao
trabalho ao saber que novos anfíbios estavam sendo chamados para que o serviço
que eles deveriam estar efetuando, fosse feito. Com isso, muitos saíram pulando
em direção ao local de trabalho para garantir sua vaga.
No reino da Sapolândia,
bem diferente de outros lugares do universo, os líderes pula-pula ficam
desesperados quando veem o movimento que lançaram fazer água. Deveriam
gostar... sapo, água... tudo a ver. Mas não. Depois de descumprir ordens
judiciais da alta corte dos sapões – algo inimaginável no mundo dos humanos,
por exemplo – recorrem à mesma corte, bem como a outras, buscando direitos. Os
deveres, não. Esses não são importantes. Mas isso não faz diferença. Sapos não
são cidadãos. Humanos é que para serem cidadãos de verdade devem reconhecer
seus direitos e deveres.
No desespero, os líderes
saltitantes radicalizam o movimento, perseguem o rei, chamam sapos de outros
reinos para ajudar a implantar a balbúrdia. É disso que sobrevivem. Os líderes pula-pula
e sua organização vivem do barulho. Se não fizerem muito barulho pelo menos uma
vez por ano, não há razão para sua existência. Ela depende disto. Eles precisam
mostrar aos incautos que existem, estão ali, na luta. Ao final, não ganharão nada
com isto, como conta a fábula “Greve no Reino da Sapolândia”. Se você ainda não
há conhece, deveria ler. É bem mais interessante que Chapeuzinho Vermelho que,
segundo as más línguas, é amiga dos líderes pula-pula do brejo.