A tendência
é que quando a bola começar a rolar, os brasileiros estarão torcendo pela Seleção
(pela nossa, quero dizer). Afinal, este sempre foi um “país de chuteiras”. Porém,
uma coisa é certa. É a Copa do Mundo com menos clima de Copa do Mundo que me
lembro. Parece que o brasileiro ficou com vergonha de colocar o bloco na rua. Ou
está tão indignado com o fato do Governo Federal colocar R$ 8 bilhões em
construção de estádios quando falta tudo (escolas, hospitais, equipamentos
nesses lugares, rodovias e todo o tipo de infraestrutura imaginável), que não
consegue se sentir à vontade para torcer. Ou as duas coisas juntas. A indignação
leva à vergonha.
A
realidade é que se vê poucos carros enfeitados com fitas verde-amarelas ou
bandeirolas do país. Quase não se vê casas com bandeiras, lembrando o patriotismo
que sempre aflora em tempos de Brasil na Copa. Logo quando a Copa é em nosso
quintal. Logo quando a Copa é no Brasil. Não há outra explicação para esta
apatia verde-amarela que não seja uma manifestação até então silenciosa de que
a grande maioria dos brasileiros é contra um evento em que o Governo Federal
prometeu recursos privados para investimentos em estádios e dinheiro público em
obras de infraestrutura, mas ficou muito longe de cumprir. Nosso dinheiro (de
impostos) ergueu estádios modernos – alguns deles verdadeiros elefantes brancos
que ficarão abandonados após a competição ou receberão jogos para duas a três
mil pessoas em campeonatos estaduais sem relevância, e as obras de
infraestrutura ficaram para a posteridade.
Hoje a
grande campanha (além das publicitárias feitas pelo Governo e que apelam para a
emoção, porém sem qualquer argumento racional que faça o brasileiro mudar de
ideia) é para que os brasileiros consigam separar o futebol do resto. Seleção
Brasileira em campo de um lado (no coração) e a Copa do Mundo de (maus) gastos
exorbitantes com dinheiro público de outro (na cabeça). Ainda assim, até agora
parece que está difícil para o brasileiro assimilar a proposta. Acredito que o
brasileiro torcerá calado. Explodirá na medida em que a Seleção for avançando,
mas continuará envergonhado de dizer que apoia o Brasil nesta Copa. Esta foi a ‘grande
conquista’ dos dirigentes brasileiros que propuseram, captaram e estão fazendo
o evento no país: colocar o brasileiro, sempre unânime em relação à sua paixão
pela Seleção, na apatia da vergonha e da dúvida. Isto se não retornarem as manifestações de rua de
junho do ano passado.
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