quinta-feira, 5 de junho de 2014

FUTEBOL E POLÍTICA: COPA SEM BRILHO?



A tendência é que quando a bola começar a rolar, os brasileiros estarão torcendo pela Seleção (pela nossa, quero dizer). Afinal, este sempre foi um “país de chuteiras”. Porém, uma coisa é certa. É a Copa do Mundo com menos clima de Copa do Mundo que me lembro. Parece que o brasileiro ficou com vergonha de colocar o bloco na rua. Ou está tão indignado com o fato do Governo Federal colocar R$ 8 bilhões em construção de estádios quando falta tudo (escolas, hospitais, equipamentos nesses lugares, rodovias e todo o tipo de infraestrutura imaginável), que não consegue se sentir à vontade para torcer. Ou as duas coisas juntas. A indignação leva à vergonha.

A realidade é que se vê poucos carros enfeitados com fitas verde-amarelas ou bandeirolas do país. Quase não se vê casas com bandeiras, lembrando o patriotismo que sempre aflora em tempos de Brasil na Copa. Logo quando a Copa é em nosso quintal. Logo quando a Copa é no Brasil. Não há outra explicação para esta apatia verde-amarela que não seja uma manifestação até então silenciosa de que a grande maioria dos brasileiros é contra um evento em que o Governo Federal prometeu recursos privados para investimentos em estádios e dinheiro público em obras de infraestrutura, mas ficou muito longe de cumprir. Nosso dinheiro (de impostos) ergueu estádios modernos – alguns deles verdadeiros elefantes brancos que ficarão abandonados após a competição ou receberão jogos para duas a três mil pessoas em campeonatos estaduais sem relevância, e as obras de infraestrutura ficaram para a posteridade.

Hoje a grande campanha (além das publicitárias feitas pelo Governo e que apelam para a emoção, porém sem qualquer argumento racional que faça o brasileiro mudar de ideia) é para que os brasileiros consigam separar o futebol do resto. Seleção Brasileira em campo de um lado (no coração) e a Copa do Mundo de (maus) gastos exorbitantes com dinheiro público de outro (na cabeça). Ainda assim, até agora parece que está difícil para o brasileiro assimilar a proposta. Acredito que o brasileiro torcerá calado. Explodirá na medida em que a Seleção for avançando, mas continuará envergonhado de dizer que apoia o Brasil nesta Copa. Esta foi a ‘grande conquista’ dos dirigentes brasileiros que propuseram, captaram e estão fazendo o evento no país: colocar o brasileiro, sempre unânime em relação à sua paixão pela Seleção, na apatia da vergonha e da dúvida. Isto se não retornarem as manifestações de rua de junho do ano passado.


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