domingo, 29 de junho de 2014

GREVE NO REINO DA SAPOLÂNDIA


Era uma vez um reino muito bonito chamado Sapolândia. Nele havia muito verde e era repleto de lagoas. Claro que por esta razão é que os sapos lá se arregimentavam e criaram seu reino. Porém, na Sapolândia havia sapinhos infelizes. Alguns chamavam o reino de brejo e criavam polêmica em torno de toda e qualquer proposta, criticavam e coaxavam muito por qualquer ideia de mudança.

Até que um dia, meia dúzia de saltitantes sapinhos que trabalhavam para o governo da Sapolândia resolveram entrar em greve. Não era a primeira daquele reino, mas a mais sem noção. Os sapinhos líderes do movimento nunca haviam sido tão bem tratados por um governo quanto aquele. Conseguiram liberar mais sapinhos sindicalistas para ficar à disposição do sindicato pula-pula. Conseguiram liberar os sapinhos que trabalhavam para o reino para participar do dobro do número de assembleias durante o ano sem descontar o dia não trabalhado. Conseguiram uma série de vantagens para os sapinhos empregados do reino. Mas na hora da data-base do reino da Sapolândia, esqueceram tudo.

Está certo que sapos não são muito bons em gratidão e reconhecimento. Não fosse assim, não seriam tão feios. Quem conhece aquela outra fábula chamada “Festa no Céu”, sabe bem por que são como são. Os líderes anfíbios queriam mais: queriam aumento do número de mosquitos disponíveis para suas bocarras muito maior do que os mosquitos disponíveis no reino. Conseguiram convencer meia dúzia de sapinhos incautos e, linguarudos, fizeram-lhes a cabeça. Coaxaram, Coaxaram, Coaxaram por dias seguidos nos ouvidos dos incautos vislumbrando dias melhores, com fartura de mosquitos para todos. Juravam que o governo do reino da Sapolândia tinha mosquitos de sobra guardados em seus cofres escuros.

O que os sapinhos incautos não sabiam é que os líderes pula-pula conheciam a realidade e dificuldade do reinado em arrumar mosquitos para aquelas bocarras. Mas prometeram mundos e fundos. Garantiram que os mosquitos mensais de sempre estariam disponíveis para a bocarra de cada sapo no primeiro dia útil do mês, quando o reino disse que cortaria o suprimento de mosquitos dos sapos que aderiram ao movimento e não prestaram a contrapartida de seus serviços: coaxar à beira do brejo. O que não disseram, é que eles, os líderes, estavam com sua quantidade de mosquitos garantida, inteirinha, intacta.   

Bateram as patinhas dizendo que nenhum sapinho com contrato temporário poderia ser dispensado por causa da greve. Aliás, o que a sociedade do reino da Sapolândia simplesmente não entendia, era porque os temporários estavam na greve, visto que não tinham direito a nenhum benefício reclamado pelos líderes pula-pula. Ainda assim, engrossavam o cantar da turma à beira da lagoa. Muitos, porém, voltaram ao trabalho ao saber que novos anfíbios estavam sendo chamados para que o serviço que eles deveriam estar efetuando, fosse feito. Com isso, muitos saíram pulando em direção ao local de trabalho para garantir sua vaga.

No reino da Sapolândia, bem diferente de outros lugares do universo, os líderes pula-pula ficam desesperados quando veem o movimento que lançaram fazer água. Deveriam gostar... sapo, água... tudo a ver. Mas não. Depois de descumprir ordens judiciais da alta corte dos sapões – algo inimaginável no mundo dos humanos, por exemplo – recorrem à mesma corte, bem como a outras, buscando direitos. Os deveres, não. Esses não são importantes. Mas isso não faz diferença. Sapos não são cidadãos. Humanos é que para serem cidadãos de verdade devem reconhecer seus direitos e deveres.

No desespero, os líderes saltitantes radicalizam o movimento, perseguem o rei, chamam sapos de outros reinos para ajudar a implantar a balbúrdia. É disso que sobrevivem. Os líderes pula-pula e sua organização vivem do barulho. Se não fizerem muito barulho pelo menos uma vez por ano, não há razão para sua existência. Ela depende disto. Eles precisam mostrar aos incautos que existem, estão ali, na luta. Ao final, não ganharão nada com isto, como conta a fábula “Greve no Reino da Sapolândia”. Se você ainda não há conhece, deveria ler. É bem mais interessante que Chapeuzinho Vermelho que, segundo as más línguas, é amiga dos líderes pula-pula do brejo.

A nossa sorte, a grande sorte dos humanos, é que não vivemos no mundo dos sapos. Apesar do bonito reino da Sapolândia, há anfíbios que fazem dele o reino dos brejos utilizando-se de mentiras, falácias e meias-verdades para levar os outros a erro. Não seria suportável viver com tanta maldade e sujeira. 


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