O que quero dizer aqui é que, naqueles momentos em que você é mais você, naqueles momentos mais íntimos, você ainda pode estar se enganando. Melhor: você muito provavelmente estará se enganando. Arrisco mais: você estará! Sem querer, sem saber, totalmente inconsciente. Isso porque todas as vezes que você se expressa por palavras para dizer de um sentimento emocional você comete um “crime”: o de racionalizar uma emoção. Por mais que você sinta o que disse, para dizer você tornou racional o ato de sentir. E racionalidade não tem nada a ver com emoção, com passionalidade. São duas coisas totalmente antagônicas que vivem dentro de nós. Uma no cérebro, outra no coração. Como dois lados de uma mesma moeda, que fazem parte de um mesmo objeto mas não podem jamais estar juntas de um mesmo lado.
É bem provável que você nunca tenha parado para pensar nisso. Porque temos a natural sensação e inclinação para acreditarmos naquilo que dizemos e sentimos. Porém, todas as vezes que falamos a alguém o que realmente sentimos, acionamos o processo racional de tentar transformar um sentimento em palavras. Isso não faz, necessariamente, do seu sentimento uma mentira. Mas sem dúvida o processo de racionalização desta emoção transforma-a em um dito (dizer) que pode aumentar ou diminuir aquilo que verdadeiramente se sente. Ou simplesmente mascarar um sentimento. Não se culpe. Isso acontece inconscientemente. O processo de racionalização para podermos nos expressar em palavras é absolutamente normal. O único problema é que ele jamais substitui o verdadeiro sentimento.
Vou tentar exemplificar: dizer ‘eu te amo’, por exemplo, não é tão difícil assim para pessoas enamoradas. Sai da boca a toda hora. Mas a impressão que fica é que quanto mais se diz, menos se sente. Como se a frase, depois de um certo tempo em que o fogo da paixão começa a arrefecer, fosse usada como um fole a soprar as brasas. Uma tentativa de convencer ao outro ou de se convencer? Outro exemplo: filhos e pais pouco dizem – infelizmente – uns aos outros ‘eu te amo’. No entanto suas atitudes (a dedicação dos pais pelos filhos é um exemplo disso) demonstram isso com sentimento, sem racionalização. E ela nem é necessária, embora às vezes seja bom reafirmar este sentimento.
A dúvida que pretendo deixar estampada aqui para você (até porque a dádiva da dúvida é a dívida do óbvio) é para mim, hoje, uma certeza: a de que por mais sinceros que sejamos em nossos sentimentos conscientes, inconscientemente podemos estar nos enganando.
Piorou? Então vou tentar pela última vez: sou da opinião que nossos atos puros de afeto, muitas vezes pequenas atitudes, cotidianas até, demonstram nossos sentimentos da forma mais real, mais verdadeira. É o caso prático de uma amizade. Você não fica dizendo a um(a) amigo(a) que a ama, que a quer bem demais. Mas suas atitudes em relação a ele(a), principalmente em momentos em que precisa de você, deixam isso claro. Isso serve para tudo. Na vida a dois, com os pais... Os sentimentos falam por si, porque são puros, emocionais, não racionalizados. Por mais que você fale a verdade ao expressar um sentimento, este é um sentimento racionalizado. Passou por um processo de “pasteurização emocional” que faz com que ele perca seus “nutrientes”.
O sentimento é o mais bonito dos sentidos não palpáveis e é, por isso, o mais difícil de ser expressado, inclusive nos momentos mais íntimos. É passional, não merece nem carece de racionalização. Logo, o verdadeiro sentimento está no agir, não no falar. Lembre-se disso.
2 comentários:
Concordíssimo. Mas tentar dizer o que se sente, no mínimo, resulta em boas frases. Fazer as pessoas pensarem no que sentem de verdade é o que vale a pena.
..."dizer ‘eu te amo’, por exemplo, não é tão difícil assim para pessoas enamoradas. Sai da boca a toda hora. Mas a impressão que fica é que quanto mais se diz, menos se sente."
Fabrício, isso é a mais pura verdade, a frase entrou na minha lista.Realmente expressar em palavras o que se sente é muito difícil e na escrita, poético.
As atitudes realmente falam por si.
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