quinta-feira, 30 de abril de 2009

A morte, minha namorada

Você já parou para pensar porque as pessoas têm medo da morte? Porque você tem medo da morte? Parece insano, mas a figura da morte apavora a grande maioria – e os que não têm pavor dela, pelo menos não a querem por perto. Mas não foi sempre assim. A história nos mostra que a relação do ser humano com a morte muda, de tempos em tempos.

Nas sociedades tribais, por exemplo, o “problema” praticamente não existia, porque o indivíduo tinha pouca importância na coletividade. A morte só passou a ter importância à medida que o indivíduo passou a ter um papel social. Na antigüidade prevalecia o sentimento de familiaridade com a morte. Sócrates, por exemplo, dizia que a filosofia nada mais era do que a preparação para a morte. A Idade Média, altamente influenciada pela religião, transformou a morte em uma passagem desta vida para outra. Na Idade Moderna, execramos a possibilidade de morrer e utilizamos as tecnologias ao nosso alcance para driblar a realidade e prolongar a vida.

Com todos os nossos avanços tecnológicos, parece-me que conseguimos regredir em nossa relação com a morte. E em qualquer tempo, independente da cultura do período, ela é nossa única certeza, a namorada certa com quem dançaremos a última música. Em verdade, vejo poesia na morte (e não vejo vida após ela). Ela tem cor – e não á preta. Ela tem a cor da liberdade. Ela tem cheiro – e não é ruim. Ela cheira a lírios no campo, como uma brisa que sopra no verde rasteiro. Ela tem até beleza, porque não mente. Chega com a certeza de uma verdade absoluta, sem meio termo.

Descanso eterno. Todos já ouvimos isso. Pois é isso que a morte me parece. Um belo, sereno e duradouro descanso, depois de uma vida movimentada, de compromissos, atribulações e luta diária pela sobrevivência. Um sopro de liberdade eterna, ou um sopro eterno de liberdade. Talvez seja esta a razão pela qual tribos africanas, até hoje, ainda choram quando do nascimento de uma criança e festejam a morte de um dos seus.

Claro que a morte dói, se é isto que você está pensando. Mas acredito que só dói para quem fica. Há até um certo “quê” de egoísmo nesta dor. Porque quem parte está liberto, não sofre... nunca mais. Haverei de chorar, também, na morte dos meus. Muito mais pela saudade de não vê-los do que pela morte em si, no entanto. Porque terei comigo a certeza de que não sofrerão mais qualquer decepção, qualquer mal. Às vezes penso que Sócrates estava certo: viver é se preparar para a morte. Se ela faz parte do ciclo natural, vida e morte dois lados da mesma moeda, não pode ser ruim. A morte é boa.

Você deve estar se perguntando: o Fabrício escreve, escreve, mas duvido que queira morrer... é, você está certo. Ainda não. Antes quero viver, viver muito. Não necessariamente muito tempo. Muita vida, mesmo em pouco tempo. Lobão já cantava: “melhor viver dez anos a mil, do que mil anos a dez”. Quero ter muitos momentos felizes, muito prazer nas coisas simples – e nas não tão simples também – para quando chegar a hora, olhar para trás e ter a certeza de que estou pronto. Ou, se não a certeza, pelo menos a sensação de que posso ir para minha última dança em paz.

Ah!... a morte não é somente a minha namorada. Ela é a nossa namorada. Como você vai querer encarar este romance de conviver eterno?



4 comentários:

Sangue Bom disse...

Fabricio, uma vez li em um livro que "as pessoas não tem medo da morte e sim medo de como vão morrer!". É algo de se pensar...
Abraços e tamo na área.
Márcio Santos
www.marciosantosblu.blogspot.com

Thiago Duwe disse...

Às vezes, parece que amar a morte é só o que nos resta. Temos que caminhar céleres para ela, não para encontrá-la logo, mas sim sem pensar muito de como ela vai se apresentar. Ela é irracional, como a paixão. Nos apaixonemos pela morte, como nós já apaixonamos pela vida! Esses dois lados da mesma moeda!

L.C.N. disse...

Esse assunto é realmente algo que poderia gerar uma discussão que levaria dias. Porém minha breve opinião é que a igreja perdeu grande parte do seu poder sobre a sociedade, e com ela a pessoas passaram a repensar suas crenças. Automaticamente o medo do sono eterno vem aumentando a busca por uma vida mais longa, nem que seja tecnológicamente.
Mas com a certeza de que esta um dia vai ter fim, a melhor maneira é ser feliz e fazer o bem a todos, pois como nosso corpo vai sumir, o nosso nome também irá. E a bondade que passamos enquanto seres presentes é o que irá ditar por quantas gerações nosso nome irá viver depois da partida.

Nascimento disse...

Depois dos 40, cada respiro é lucro...
abraços, Marcos