segunda-feira, 27 de abril de 2009

A leitura, a filosofia e Nietzsche

Hoje fiquei sabendo que nas escolas ainda utilizam, como leitura para posterior trabalho de aula, livros bem antigos. Escolas particulares, bem dito, que ainda se preocupam em incentivar a leitura de seus alunos. Alguns são clássicos da literatura-didática como O Homem que Calculava, de Malba Tahan, pseudônimo de um carioca chamado Júlio César de Mello e Souza (1895-1974). Embora o livro seja de fácil entendimento, sempre me causou estranheza a utilização de algumas obras para adolescentes.

Não é exatamente o caso deste, mas de ícones da literatura como Luiz de Camões – este é um exemplo bem típico. Penso que qualquer jovem lendo Camões, acabe broxando* para a leitura. Nunca mais vai querer pegar em um livro. Uma leitura chata, ultrapassada, distante da realidade contemporânea, por mais valor histórico e de estilo literário que tenha, afasta futuros leitores. Corre com eles.

Este preâmbulo serve para dizer que ler é fundamental e que conquistar leitores com boas indicações, também. Principalmente as crianças e adolescentes. Em um país que pouco se lê, escolas e professores têm papel importantíssimo na criação de futuros leitores. E gosto só se adquire com hábito. Mas não há como “pegar gosto” sem uma leitura agradável.

Vejo esta introdução sobre a leitura como um assunto realmente importante, que deveria ser bem discutido entre docentes, mas ela nada a tem ver com o restante do texto. Exceto que estou lendo Vontade de Potência, de Friedrich Nietzsche. É um livro, é leitura. Para mim, das melhores (a opinião é pessoal e tem que se gostar do tema filosofia para saborear este gênero de literatura). Como estou lendo mais uma obra do autor, resolvi dividir com vocês algumas pérolas do pensador que questiona constantemente todos os valores morais impregnados em nós durante séculos pela sociedade, criticando a religião, a política e até mesmo a própria filosofia. Na verdade, ele propõe, sempre, a libertação dessas amarras.

Pitacos de Nietzsche

Esses “pitacos” de Nietzsche (como é bom poder chamar frases de um dos maiores pensadores de todos os tempos de pitacos, como se estivesse considerando-os palpites, apenas. Penso até que ele gostaria da ousadia) não são de um livro apenas, mas algumas passagens do filósofo alemão do século XIX.
Aproveite. As frases são ensinamentos – não a serem seguidos, mas a serem pensados. Não as leia, somente com os olhos. Pare e pense com profundidade sobre o que querem dizer. Ótima reflexão!

“Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

“Os grandes intelectuais são céticos”.

“O que não provoca a minha morte, faz com que eu fique mais forte”.

“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.


“Torna-te aquilo que és”.

“No matrimônio existem apenas obrigações e alguns direitos”.

“É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado”.

“É mais fácil lidar com uma má consciência, do que com uma má reputação”.

“Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez – a si próprio?”.

“A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade”.

“A vida vai ficando mais dura perto do topo”.

“Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável”.

“A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia”.

“Temos a arte para não morrer da verdade”.

“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez”.

“Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados”.

“Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo”.

“O homem é definido como um ser que evolui, como o animal é imaturo por excelência”.


Estou devendo a alguns amigos a transcrição de algumas passagens de O Anti-Cristo, de Nietzsche, para mim sua obra prima. Em breve o farei e publicarei aqui no blog.

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* Broxar ou brochar? (sei que esta dúvida ortográfica causará dúvidas, então explico): O Aurélio reserva a palavra escrita com "ch" no sentido de prego ou encadernação, pois vem da palavra francesa "broche". Cadernos de brochura, por exemplo. E "broxa", também do francês "brosse", para pincel grande, de pêlos ordinários, usado em pintura pouco apurada, e outros sentidos (inclusive a analogia a que me refiro no texto).


4 comentários:

kannaPires disse...

Alem de amigo sou seu fa(n) ,e gosto principalmente quando voceh coloca o pensamento critico em teus escritos.Lembro-me quando comecou a escrever"Jornalzinho do CEFREN" como voceh evoluiu cara!!Sobre Camoes ,nao acho que seja ultrapassado ,distante da realidade e que tenha apenas valor historico. Veja uma das perolas de camoes:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
E o que acontecece eh que colocam o jovem para ler isso no momento errado,sem orientacao alguma,ai eu concordo INTEIRAMENTE contigo, ler Camoes, nao eh uma leitura tao simples assim ,eh como pedir para um jovem ouvir KIND OF BLUE do Miles Davis (1957),Rigolleto ou Otello operas de Shakespeare,ou musica Classica, Haja visto que eles nao tem qualquer informacao similar que possam entender tais obras. No caso de Camoes nao se pesquisa e leh como devia. Agora eh o momento tanto pra voceh, eu e outras pessoas fazer isto. Jah que temos um pouco de bagagem na vida e que nos permite ter um entendimento melhor de suas obras.

Thiago Floriano disse...

Os educadores (em geral) conseguem até escolher as obras do mesmo autor de uma forma estranha se pensarmos por esse lado. Costumo sempre citar como exemplo Machado de Assis. Por que mandam a gurizada ler Esaú & Jacó e não O Alienista? Tenho certeza que incentivaria muito mais a leitura. Formar leitores é fazer com que crie-se o gosto pela leitura. Depois se lê alguma coisa pelo "valor histórico" se assim alguém julgar necessário.

Unknown disse...

Teu texto inicia dizendo que escolas particulares são as que ainda se preocupam em incentivar a leitura. Estás enganado, escolas públicas também. Minha filha terminou o ensino médio em 2008, sendo os quatro últimos anos no Santos Dumont,Garcia,e a leitura foi amplamente exigida para trabalhos didáticos.Ela leu, entre outros, autores como Kafka,Heins Gartmann,Machado de Assis,Flávio José Cardoso,Jorge Amado,Lima Barreto....enfim. Fora todas atividades artístico culturais. Algumas leituras,sim,tediosas, mas reforçou um hábito que ela já trouxe de casa. E esse é o ponto prncipal.Uma casa com biblioteca farta e variada é sempre um bom começo.
Quanto a Nietzsche, gosto dele,mas vale sempre lembrar que todos filósofos e grandes pensadores são seres humanos,e como tais pensam e escrevem sobre coisas que estão vivenciando naquele momento e que depois já é um outro momento completamente diferente. Então sempre a de se cuidar e ler com critério ,principalmente adolescentes. Mas concordo em muita coisa com ele.Uma delas:"Os grandes intelectuais são céticos" Tem duas coisas que me assustam: a ignorância e o ceticismo,que no fundo são a mesma coisa.

Unknown disse...

Voltei. O final do meu comentário não se refere a ti. hehe..
Abraços..