sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um dia de Pink Floyd, entre pai e filhos

Estar quebrado e obrigatóriamente em casa, parado, não é coisa que se deseje a quem quer que seja. Há de se ter muita paciência e inventividade para não ficar muito mais chateado do que seria normal. E isso que se passaram apenas 13 dias dos 90 que o médico prevê, ficarei assim. Torço por uma recuperação mais rápida.

Enquanto isso, passo o tempo entre a redação de notas e sugestão de pautas para o TVL Notícias, leitura de alguns livros, postagens neste blog, viagens curtas pela internet, msn, e, claro, um pouco de tevê. E foi nessa que ontem reassisti o DVD do filme Pink Floyd – The Wall. Se você não viu, está perdendo a maior obra prima cinematográfica que já vi. E olha que em 43, quase 44 anos, não vi poucos filmes...

A crítica ao sistema social colocada ali é uma maravilha. Se eu já gostava do álbum, lançado no final dos anos 70, o filme faz com que o compreendamos de forma total. É um filme para ser visto, ouvido, sentido e entendido em sua filosofia... caso contrário não se entenderá a sua primazia. Mas há de se assistir legendado. A não ser que você seja um expert em inglês, daqueles que não deixa escapar a tradução de nenhuma palavrinha, nenhum sussurro. Caso contrário, a legenda deste filme é fundamental.

O pior é que não existe versão legendada em DVD. Eu a tenho, mas não existe. Explico: quando meu filho mais velho, Thierry, fez nove anos de idade comprei a fita VHS original do filme (esta versão em VHS sim, tem legenda) e dei-lhe de presente. Me chamaram de louco. Hoje ele acaba de fazer 16 anos e não me arrependo. Acredito ter contribuído para a compreensão dele de algumas coisas. Claro que copiei a fita para DVD. E ontem pude assistir o filme de novo, mas pela primeira vez na íntegra na companhia do Stephan, meu filho mais novo, de 12 anos.

É interessante porque tive de explicar toda loucura do filme, meio que passo a passo, para que ele pudesse entendê-lo. Como já havia feito isso com o Thierry aos nove anos e até mesmo durante minha pós-graduação em Educação, quando a Dra. Maria Oly Pey, nossa mais fantástica professora, queria porque queria, ao final do curso, que eu fizesse um artigo acadêmico sobre o filme sob uma visão Foucaultiana. Não me senti preparado o bastante para o desafio. Não por causa do filme, que naquela época, em 2002, já havia visto mais de 30 vezes. Mas porque acabara de estudar Michel Foucault e não estava assim tão íntimo de suas teorias (acabei-o estudando bem mais, depois). E foi muito bom ver, também, como ficou fácil para mim a leitura interpretativa do filme. Notei isso na experiência de ontem.

O melhor de tudo isso – e por isso comecei a escrever este artigo no blog – é ter a companhia de meu filho para assistir um filme desta complexidade e profundidade. Um musical cujo enredo soa como uma colagem de vídeo-clipes (com hífen – e às favas com esta inoportuna e oportuni$ta reforma ortográfica) que quase não precisa de falas, além da letra das músicas, para fazer a mais pesada, depressiva e bonita crítica ao sistema social. Se no futuro ele não vier a curtir o rock progressivo do Pink Floyd como eu, pelo menos terá a leitura do que o filme quis dizer.

Apresentei-lhe uma oportunidade de conhecer uma leitura da sociedade. A partir de agora, conhece a existência do filme. Se lhe interessar, no futuro o verá novamente e fará a sua própria interpretação. Mas não sucumbirá – espero – na ignorância de sequer ter sido apresentado à possibilidade. Penso ser este o papel de pai. Mostrar fatos e formas de ver a vida e, quando necessário, apontar o caminho. Quem decide se vai seguir ou não são os filhos. O que podemos tentar é dar a eles uma “boa cabeça”, abrindo seus olhos para coisas básicas como causa e efeito, ação e reação, ato e conseqüências (com trema, viu?) para que decidam, por si só, o seu caminho.

Meu pai (e amigo) sempre me disse, entre outras frases que nunca saíram da minha cabeça e hoje transmito aos seus netos, “experiência não se transfere, se adquire”. Cada um faz seu próprio caminho, aprende o certo e errado com seus próprios erros. É, pai, acho que aprendi.


5 comentários:

Anônimo disse...

Fabra...hoje tive duas emocoes de arrepiar uma de um amigo de USA que me mandou por email relembrando nossos momentos do OTELLO, a outra foi a tua sobre o Pink Floyd the WALL. Lembra-se que assistimos pela primeira vez no Cine Marrocos (fechou semana passada)em Lages, e que nas cenas picantes as meninas fechavam os olhos e que ao final nao entenderam nada e nos ficamos alucinados pelo filme. Coincidencia ou nao eu tambem comprei a fita pra mostrar aos alunos nas aulas de ingles, e como a fruta nao cai longe da arvore meu filho Lucas(15) e eu diversas vezes assistimos o The wall. Hoje tenho nas duas versoes com e sem legenda em portugues(utilizo a segunda). Meu filho adorou tanto que acabou influenciando seus amiguinhos na epoca (com 8 anos),que hora ou outra estava ele lah assistindo o The Wall,acabei comprando os outros discos do Pink e outros do Roger Waters.Em 2002 fomos a Porto Alegre assistir o show do Waters no Olimpico (doloroso para um colorado como eu),simplesmente inesquecivel aquela noite para minha esposa, eu e o Lucas.Estas coisas nos lavam a alma, hoje em dia somos massacrados pela midia,e estes momentos de revival fazem-nos repensar sobre a vida que devemos tentar passar aos nossos filhos. "Se for para serem influenciados que sejam por nos" (desculpa a falta de acentos) in

Anônimo disse...

Não costumo comentar os comentários aqui. Tens razão em quse tudo, exceto que o doloroso é ser colorado, meu caro Kanna... rsss

Anônimo disse...

Grande Fabrício, posso te dizer que assisti o filme The Wall no mínimo umas 30 vezes (e de todas as maneiras que vc possa imaginar rss...), e o mesmo não poderia faltar em minha coleção.
Assistindo o filme (até o final) faz vc refletir muito sobre a vida.

Segundo Karl Marx, "Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem". O que, entretanto, significa fazer alguma coisa sem ter noção de que se está fazendo esse mesmo coisa? O que significa agir segundo uma certa ideologia, mas de um modo totalmente inconsciente? E como é que isso é possível, através de quais meios e pessoas essa ideologia é passada? E é possível libertar-se dela?

Nós atravessamos pelo tempo e pelo espaço, pela realidade e por pesadelos ao nos aventurarmos por dentro das memórias dolorosas de Pink, cada uma delas um tijolo no muro que ele gradualmente construiu ao redor de seus sentimentos."
Abraços!
Márcio Santos
(marciosantosblu.blogspot.com)

Anônimo disse...

É isso aí Fabrício! Isso é tirar o melhor de cada situação que se apresenta. E como havia dito num outro comentário no blog devemos aprender e ensinar,principalmente aos nossos filhos,a pensar por si e é dsso que o The Wall fala. Melhoras....

Thiago Duwe disse...

Fantástico esse post Fabrício. Com certeza teus filhos irão agradecer no futuro como tu agradece teu pai.

E chega, tb quero uma cópia. Me sinto um ignorante por não ter visto The Wall ainda...heheheh.