domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dois momentos (rasos) de reflexão

Momento um

Há cerca de dois mil anos passados, quando a Igreja institucionalizou o viver junto e transformou-o em matrimônio, criando assim o casamento, a longevidade do ser humano, por várias razões, era 40 anos de idade.

Parênteses: casamento, aliás, que só não serviu para definir o concubinato vivido entre Jesus Cristo e Maria Madalena. Afinal, a mesma igreja resolveu, no Concílio de Nicéia (325 d.C.), que o homem Jesus Cristo deveria ser visto como um santo e santos, aos olhos dos demais mortais, não poderiam ter se dado ao desfrute de uma relação carnal... logo, Maria Madalena era “a prostituta”. Mas isso já é uma outra história...

O casamento, desde então, serviu para enquadrar a humanidade. Enquadrar no pior sentido da palavra. Os seres humanos, com todas as suas variações de psique e também de aquisição de maturidade ao longo da vida, passaram a ter que obedecer um padrão único imposto a todos. Mas para aquela época dogmas como “até que a morte os separe” não eram tão absurdos assim. Como as pessoas viviam até os 40, casavam-se aos 15 e não tinham mais de 25 anos de vida para curtir a relação.

Os tempos mudaram... e como. Agora a expectativa de vida nos leva aos 70, 80 anos. Não é de se estranhar que o casamento não dure a vida toda... além disso, mudou também a concepção de busca pela felicidade. Se antes a união era naturalmente vista como a perpetuação da espécie e continuidade sangüinea; se antes as mulheres não tinham voz e seu objetivo era casar-se para servir aos maridos e filhos; se antes os homens pintavam e bordavam fora de casa e isso era visto como natural pela sociedade e aceito pelas próprias esposas, estamos em uma nova era.

A de que não é preciso anular-se como ser humano, como indivíduo, para tentar ser feliz (ou, como defendo, ter número maior de momentos de felicidade). Atualmente nem homens nem mulheres precisam ficar unidos “até que a morte os separe” para tentarem a felicidade. Não há mais que se prestar contas à sociedade. A igreja, dominadora e castradora, perdeu sua força. Não dita mais dogmas, regras, sequer parâmetros de conduta social.

Tudo isso faz com as pessoas busquem ser felizes sem a obrigatoriedade de ficarem juntas para sempre. Afinal, uma vida toda de união não representa mais 20, 25 anos... hoje passa dos 50. Duas vidas, se comparado à época em que a instituição matrimônio foi criada.

Obs: será que vem daí o velho ditado de que “a vida (re)começa aos 40”?...


Momento dois

Será mesmo que fomos feitos para viver tanto tempo? Veja só: passamos nossa infância, juventude e boa parte da vida adulta esbanjando energia e saúde. Para quem aproveita a vida, 40 anos são uma eternidade... curtimos tudo e não sentimos nada. Dorme-se pouco, trabalha-se muito, festa-se mais ainda e tudo bem. Nosso corpo até os 40 está em plena forma. É fácil controlar o indesejável crescimento da barriga, não se tem problemas de coluna, etc, etc, etc..

Depois dos 40, as peças desta maravilhosa máquina chamada corpo humano gastam. Tal qual as de um carro. O problema é que não há reposição fácil. Começam a aparecer todos os problemas possíveis... coluna, joelhos, articulações em geral – essas são básicas e independem do tratamento que damos a elas durante a vida. Para quem não tem consciência da importância da água, fibras e alguns cuidados com a alimentação, a situação é bem pior. Intestino, coração, estômago... a lista é grande.

Somos, depois dos 40, o resultado do que fizemos com nossa máquina até aí. Se nos aproveitamos dela e ao mesmo tempo cuidamos, tudo bem. Temos menos peças a nos dar problemas. Caso contrário... Ainda assim, há o desgaste natural das peças. Como aquelas originais de fábricas de nosso carro, que não são trocadas nas revisões. Dessas, ninguém escapa. Talvez porque não tenhamos sido projetados para viver tanto. E depois dos 40 anos, alguns mais outro menos, mas todos sentiremos os efeitos – muito mais internos do que externos – do tempo.

Que bom que, pelo menos, muitos aproveitam a experiência dos anos vividos para tornarem-se menos indolentes, mais sábios.

Mas aí, me obrigo a voltar à pergunta inicial deste segundo momento: será mesmo que fomos feitos para viver tanto tempo?

Obs2: se a vida começa aos 40, lembre-se que a carcaça é usada.


3 comentários:

Anônimo disse...

Espero que esteja melhor.Em um mundo onde ninguém pensa em nada, dois momentos já são mais que suficientes.

Anônimo disse...

Fabricio,
Fiquei sabendo hoje do seu acidente. desejo-lhe rápida recuperação. Um abraço colorado.
Roberto da Luz

Anônimo disse...

esse tempo sozinho aí tá te deixando reflexivo demais...imagina qdo sair daí, vida nova, novos projetos?