quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Cotidiano - Blumenau, 12.02.2009

LOCAIS

GREVE DE ÔNIBUS

Particularmente, vejo na greve um instrumento natural de pressão dos trabalhadores. Deve ser, sempre, a última medida a ser tomada, quando todas as outras negociações já falharam. Ainda assim, é uma medida legítima. A greve do transporte coletivo de Blumenau, deflagrada ontem pelo sindicato dos motoristas e cobradores, no entanto, precisa ser bem analisada...

SEM CARTÃO

O sindicato alega que há meses tenta negociar sem solução – e o movimento já parou a cidade antes da tragédia de novembro, é verdade. Há alegações que soam absurdas no mundo trabalhista civilizado de hoje: que sequer cartão-ponto motoristas e cobradores teriam disponíveis para marcar seu horário de trabalho e contabilizar possíveis jornadas extras. Tem razão a greve? Tem. Se nos colocarmos no lugar desses trabalhadores, sim.

DESINTELIGENTE

Porém também não há como negar que a fórmula utilizada – parar totalmente o transporte coletivo urbano de uma hora para outra, sem qualquer aviso prévio à população – é burra. Ela prejudica o pequeno, aquele trabalhador que não tem carro e depende do ônibus para seu deslocamento. Da classe média-baixa para cima, o único prejuízo são os engarrafamentos, que se tira de letra.

Uma greve de ônibus total e sem aviso prévio tem o condão de colocar toda a comunidade contra os grevistas, por mais que tenham razão em suas reivindicações. É isso que querem o sindicato e seus representados?

BALELA

Na guerra de discursos, que pretende tão somente justificar o injustificável, o sindicato alega que a tarifa recebeu aumento, passou a ser a mais cara do estado (e motoristas e cobradores, nada). Dá a entender que jogam ao lado do usuário do transporte coletivo, que terá de desembolsar R$ 0,25 a mais por viagem. Balela! Se houver aumento, todos voltam a trabalhar felizes, a tarifa fica mesmo R$ 2,30 e o usuário que se dane.

OUTRA BALELA

De outro lado vem o papo da crise mundial e da tragédia climática de novembro, que castigou Blumenau... primeiro: a crise mundial não se abateu sobre o transporte coletivo. A demanda continua firme e os insumos não tiveram seus preços majorados. Segundo: a tragédia de novembro não pode ser utilizada como desculpa para todos os males existentes na cidade daqui para frente. Há de se ter mais responsabilidade no discurso. A comunidade não é otária e a pieguice enjoa.

IRRESPONSABILIDADE

Mas que uma greve assim, de supetão, é irresponsável, isso é. As pessoas – muito especialmente as mais simples, as mais humildes – marcam seus compromissos contando com o transporte coletivo. Exatamente para essas tudo é mais difícil. E elas são as mais penalizadas. Falo com conhecimento de causa: estava no hospital para novos raio x e acompanhamento de minhas fraturas causadas pelo recente acidente que sofri e conversei com uma senhora, que devia ter entre 50 e 60 anos e seria atendida pelo SUS, e veio a pé do terminal do aterro até o hospital para não perder seu atendimento médico. Isso é justo?

Por essas e muitas outras, a sociedade acaba pressionando Ministério Público e Justiça que já, já, declararão a greve ilegal... e os trabalhadores que estarão nos ônibus em seguida, serão vistos com raiva – ou pelo menos com desrespeito – pelos usuários.

Greves costumam ser justas (exceto as de sexo), mas devem ser feitas com responsabilidade e inteligência para que o tiro não saia pela culatra.

DE PLANTÃO?

Para os amigos de plantão, a “Lei de Murph” dá a entender que tudo o que está ruim, pode piorar... pois além da fratura exposta da tíbia e da fratura de costelas, indo ao médico ontem descobri também que fraturei o perônio em dois lugares. E com novos exames de raio x, que houve fratura na mão esquerda também. Logo, o antebraço todo está envolto em tala de gesso.

Ferros na perna que não pode encostar no chão e tem que ficar na horizontal e mão esquerda “entalada”, já troquei o andador por uma cadeira de rodas, para me locomover em casa, quando estritamente necessário. Esta coluna foi toda digitada só com a mão direita (rss). Só não vão me tirar o bom humor. A independência já foi pro pau.


Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que o negócio era avisar "vamos parar dia X".
E daí parar mesmo, 100% até conseguir que as exigências sejam tomadas.

Assim o trabalhadores q precisa do onibus nao vai poder utiliza-lo, eh verdade. Mas os respectivos patrões vão ser obrigados a aceitar.
Vai bagunçar a cidade toda? Vai sim. E é mesmo pra bagunçar!

Mas depois não podem reclamar que vão todos pra rua. São medidas drásticas! Se derem certo, serão drásticas e boas. Se der errado, serão drásticas e muito ruinas. Tem que arriscar.