domingo, 27 de julho de 2008

A infeliz "saga" de um gremista feliz

Aos meus 43 anos anos, achei que não tinha mais experiências infelizes provocadas por mim mesmo para experimentar. Ledo engano. A genta sempre descobre uma nova.

Gremista convicto, de “quatro costados”, como bom gaúcho de Porto Alegre, não poderia perder a oportunidade de ver um jogo do meu Imortal em Florianópolis.Exceto ano passado (2007), estive no estádio Orlando Scarpelli nos últimos três anos.

Impelido – literalmente – pelo meu filho mais velho, que fica quase louco quando há jogo do Grêmio por perto, me animei a ir a Floripa para ver o jogo Grêmio versus Figueirense da última quinta-feira (24.07).

Como em anos anteriores sempre comprei ingresso na bilheteria do estádio, não me preocupei em adquiri-los antes, via internet ou um dos amigos que vivem na Ilha. Ao contrário dos outros anos, não fui de carro, mas fiz parte de uma excursão do nosso grupo de gremistas de Blumenau, em ônibus.

A viagem foi um barato. Levei dois DVD’s produzidos sobre a chamada “Batalha dos Aflitos”, que não rodaram no aparelho do ônibus. Travavam direto. Como a turma era muito legal, não fizeram muita falta.

Chegamos ao estádio e começou a “saga”. Na portaria onde os gremistas tradicionalmente compram seus ingressos, bilheteria fechada. As más notícias de que não havia mais ingressos para a partida se confirmavam. Estávamos no mesmo barco eu, meus dois filhos, e mais uns 20 gremistas que foram no ônibus (os outros já tinham adquirido ingressos antecipadamente).

Não sobrava alternativa. Teríamos que comprar ingressos com os cambistas. Começamos a negociar e, aí, a surpresa pior. Além de pagar mais caro, só havia ingresso para assistir o jogo junto à torcida do Figueirense. Não que o time da Ilha não seja simpático aos gaúchos-gremistas que vivem em Santa Catarina. Mas quando o assunto é futebol...

Não deu outra. Compramos os ingressos, mantivemos nossas belas camisetas tricolores embaixo de outras que vestíamos e entramos no Orlando Scarpelli, rumo ao fatídico “setor B”. Teríamos que sentar no meio da numerosa torcida do Figueira.

Pior do que isso, só o que viria depois, ao longo dos 90 minutos de jogo. 7 a 1. 7 gols (permitam-me o absurdo de começar uma frase com numeral, mas os números neste caso têm uma força impressionante!) do time do coração e nós ali, calados, amordaçados, sem poder dar um grito sequer de Gooooooollll !!!!, algo que quase se compara ao êxtase do auge sexual.

Pois foi o que aconteceu... se em qualquer jogo da minha vida torceria para o Grêmio meter 5, 6, 7 gols no adversário, naquela situação totalmente desfavorável, ganhar por 1 a zero seria muito bom. Engoliria o grito de gol apenas uma vez; apenas uma vez ele ficaria entalado na minha garganta de torcedor deslocado, em perigo diante da situação adversa.

Mas como a vida tem dessas coisas, foram 7. Um após o outro, um a cada doze minutos e meio, em média. Sete vezes tive de engolir em seco e ficar com o grito mais esperado por um torcedor preso na garganta. Foram 7 como se o time adivinhasse que a maior goleada do Grêmio em toda a história do Campeonato Brasileiro fosse, também, o maior sofrimento futebolístico de toda a minha vida.

A cada gol, levantava da cadeira verde do setor B, e na impossibilidade de vibrar como toda a nação gremista fazia lá do outro lado do estádio (nos setores reservados à torcida tricolor), jogava meu boné no chão como indignado – e quando ia juntá-lo, olhava para meus filhos ao meu lado e vibrava abaixado, quase em silêncio, gritando um gol que quase eu mesmo não ouvia. Afinal, não podia deixar que os alvinegros das cadeiras logo acima e logo abaixo ouvissem o sussurro da minha vitória.

Não bastasse isso tudo, também não pude entoar os gritos e hinos que a torcida do Grêmio entoa durante toda a partida. Uma inesquecível festa em azul, preto e branco que vi ao vivo, mas não pude participar durante um momento sequer... Restou a comemoração na volta, no ônibus, e no restaurante que paramos em Biguaçú e soltamos aquele grito preso na garganta durante todo o jogo.

Gremista desde guri, gosto de acompanhar o time sempre que possível. Mas juro que a partir de agora serei muito mais precavido. Ingresso, só antecipado. Ou nem vou. Ninguém merece tanto sofrimento calado. Ou seria tanta alegria calado? Não importa. Vi meu time dar a maior goleada de sua história em Brasileiros e assumir a ponta do atual campeonato amordaçado. E isso, ninguém merece.


2 comentários:

Anônimo disse...

a pior vitória da história!!

tem que rir para não chorar...heheheh

abraço!!

Anônimo disse...

esses gremistas... eu tbm preferia que vcs não tivessem feito tantos gols, assim meu mengão não tinha caído pra segunda posição. Mas calma, desse final de semana a nossa volta à liderança não passa!