quarta-feira, 7 de maio de 2008

Entre o certo e o errado

Tudo, basicamente TUDO em nossas vidas é medido pela dicotomia certo e errado. Todos em nossa volta, próximos e distantes, julgam-nos pelos nossos atos certos ou errados. Se não bastasse isso, nós mesmos agimos e nos policiamos, nos julgamos e muitas vezes nos condenamos pelos parâmetros de certo ou errado. O problema é que quase ninguém para pra pensar o que é certo ou errado – ou melhor, como essas duas palavrinhas tão antagônicas podem ser tão confundidas, confusas ou misturadas entre si, não diferindo exatamente os nossos atos. Entendeu? É, concordo que ficou meio complicado... mas estou certo ou errado nessas considerações?

Aí é que mora a diferença: tanto faz. Como tudo na vida, o certo e o errado são interpretativos. Depende da situação, de quem está vendo, do momento histórico em que o agente da ação vive ou mesmo da cultura histórica de quem está “julgando” o ato, a ação. Vou dar um exemplo básico: é certo ou errado tirar a vida de alguém?.. matar alguém... (pausa para pensar). Nem precisa muito tempo, não é mesmo? Na sua cabeça já veio a palavra “errado”. Mas se o agente da ação estiver no meio de uma guerra, onde se não matar, será morto, será certo ou errado matar, ainda que pela sobrevivência?.. Ah, pois é!

Mas isso é só um exemplo de como as coisas não precisam ser exatamente como nos dizem que são, de que certo e errado podem, sim, ser conceitos que se misturam, se confundem. Ou que, pelo menos, precisam ser reconceituadas a cada momento. Porém não é por isso que comecei a escrever isso aqui. É muito mais pela mania não casual que a sociedade (leia-se pessoas nela inseridas) tem de julgar o que é certo ou errado. Afinal, definir claramente o que é certo e errado, pré-julgar, julgar as pessoas que convivem socialmente, é maneira comprovadamente eficiente de manter o status quo existente. E isso convém, principalmente, às castas comandantes, especialmente, governantes, igreja... o sistema, enfim. É claro que não falo especificamente do comando político, mas sim do comando comportamental.

Está certo que se não houver um mínimo de definição entre o que se pode ou não fazer, voltaríamos aos tempos dos bárbaros. O problema é que apoiada nessas duas palavrinhas (certo e errado) e mais algum punhado de milhares de dezenas de anos de história, transformaram-nos em uma constante dicotomia. E, nela, se você ousa fazer algo diferente, é taxado como errado. Chegamos a tal ponto (e a história passada de diversos países não deixa mentir) que pensar chega a ser considerado errado. Obviamente que por aqueles que não pensam, insuflados por aqueles que não querem que pensemos. Sacou?

A verdade é que nesta dicotomia, acabamos nos tornando policiais de nós mesmos, julgadores de nós mesmos – vivemos o panóptico. Nos vigiamos porque temos a certeza de estarmos sendo vigiados. Com uma penca de julgadores a nos observar, caso não nos julguemos a contento. E pior: nos damos o direito de vigiar os outros, nossos iguais, como se algo mais fossemos. E desta forma, ao longo da vida, vamos deixando de fazer o que queremos por considerar que estamos errados, ou simplesmente porque os demais assim nos considerariam. Nossos sonhos acabam sendo sufocados pela vidinha normal do fazer o que é certo (e também da certeza, da segurança, porque isto é considerado o certo, o normal). Nos tornamos alienados de vida, da vida em seu sentido mais sublime, e não é fazer o que é errado, em si, mas é fazer o que se tem vontade para buscar a felicidade... seja isto certo ou errado no conceito social, onde só se deve fazer o certo e o normal, como se todos nós fossemos iguais e existisse uma fórmula para que as pessoas sejam felizes.

Mas quem, verdadeiramente, está preocupado com a sua felicidade? A sociedade obviamente não está. Seus mais próximos? Difícil. Eles querem, sim, sua felicidade. Mas dentro do que eles conseguem enxergar como tal e dentro de suas leis, de suas regras... das regras impostas ao longo do tempo pela sociedade. Geralmente aqueles que lhe querem bem se consideram no direito (abusivo, sempre) de escolher o que é melhor para você. Quem estaria realmente preocupado com sua felicidade, então?.. Somente aquele que, concordando ou discordando de suas atitudes, não venha a lhe julgar (mas não somente não julgar com as palavras. É um “não julgar” também com o olhar, com os sentimentos), mas simplesmente a perguntar: você está feliz assim? Esta decisão, esta atitude lhe faz feliz agora?

É difícil, não é mesmo? Mas é a maneira de não tolhermos o ser humano de suas expectativas, sonhos, decisões, ações. Caso contrário, estaremos (como já estamos) criando um mundo de seres infelizes, sentimentalmente inoperantes, que afogam diariamente seus prazeres para ficar dentro da expectativa de uma sociedade que não está nem aí para eles – a não ser para julgá-los. Estaremos (como já estamos) criando um mundo de pessoas que buscam saídas paliativas na fluoxetina, nos anti-depressivos em geral, no álcool, drogas, ou atitudes violentas em estádios de futebol, nas ruas, no trânsito ou até mesmo em casa. Até que encontrem uma saída definitiva no suicídio ou na morte provocada pelas atitudes não-pensadas. É isso mesmo que queremos?...

Pense nisso você, porque a sociedade não está nem aí. Pense nisso antes de julgar os outros e, principalmente, antes de julgar a si mesmo. Afinal, certo e errado não existem. Foram conceitos criados para que você viva a vidinha que eles querem que você leve, sem considerar, por um minuto sequer, a sua felicidade, ou os seus momentos felizes (já que “felicidade”, em sentido amplo, é outra história, que ainda quero abordar por aqui).

Acredito que o importante é tentar ser feliz, ter mais momentos felizes do que infelizes no passar da vida, a qualquer preço. Sem machucar ninguém, sem prejudicar ninguém, é claro. Mas muitas vezes, é impossível correr atrás da felicidade sem magoar uma ou outra pessoa para quem a felicidade é o “não viver” sentimental, é aquela felicidade entorpecida, enganosa, encomendada junto ao “dever fazer”, às obrigações, às responsabilidades.

4 comentários:

Thiago Floriano disse...

Só o fato de parar pra pensar sobre isso já é sensacional. Conseguir passar o que pensou a respeito "pro papel", melhor ainda. Em alguns trechos surgiram temas que ainda quero abordar no blog também ou que complementam algo que quero abordar. Mas ainda me falta tempo pra desenvolver as idéias, e isso é péssimo. De qualquer forma, acredito que ainda hoje e aqui, "pensar chega a ser considerado errado". A regra geral é dar um jeitinho. Pensar é supérfluo, infelizmente.

Abraço.

Marina Melz disse...

alguém um dia disse que o certo é ser errado, e eu não discordo ams não chego a aceitar.

o certo e o arrado se confundem, e as vezes, atitudes que simplesmente não precisam de julgamento são as consideradas mais sábias.

Deise Furtado disse...

Temos muitos pensamentos em comum e tu sabe que esse é um deles. Legal tu ter escrito sobre isso. É importante que as pessoas entendam que o que interessa na vida é a felicidade. Todo o resto é caminho para encontrá-la.
Belas palavras!

Beijo

Milla e Lala :) disse...

perfeito!
adorei! (: