quinta-feira, 17 de abril de 2008

A dádiva da dúvida é a dívida do óbvio

No “auge” dos meus 42 para 43 anos, consigo ver algumas coisas que não via quando mais novo. Se tem uma coisa fantástica, que os mais jovens ainda irão descobrir (alguns deles, claro) é que o tempo te faz melhor. Você fica melhor com o passar dos anos, faz praticamente tudo melhor, com mais consciência, fica menos quantitativo e mais qualitativo.

Tudo bem. Para uma gama de pessoas que sentem e vivem isso, só estou chovendo no molhado. O problema é que vejo hoje que essa “gama” é sempre uma minoria. Era na minha época de “juventude etária”, é hoje. É sempre uma minoria que questiona, que para pra pensar. Infelizmente.

Mas voltando ao assunto do título (que é de minha autoria e está na dedicatória de meu livro Concreta Mente Abstrata – na boa?, até soa como futuro ditado meio popular {não acredito em nada que é popular demais}), que é a razão de estar escrevendo isto, sou um defensor da dúvida. Simplesmente porque a dúvida nos faz parar para pensar. Ao contrário do óbvio, que é tão fácil de enxergar, que é automaticamente assimilado pelo cérebro e não nos acrescenta nada.

Sou assim desde novo. Não sei se isso é virtude ou defeito, mas na época ouvia as músicas dos discos de vinil que comprava com o encarte na mão para ler as letras e tentar descobrir significados escondidos nas entrelinhas. A tal da interpretação. E tudo o que era muito direto, muito simples, muito óbvio nas letras já me incomodava.

Hoje entendo o porquê. A chance da interpretação, da dúvida, permite questionar. E para questionar é necessário pensar. (Como isso faz falta no mundo – parênteses com direito a ponto final antes e depois). Será que é por isso que acabei caindo no jornalismo?

Questionar sempre, duvidar sempre, estar incomodado com o óbvio sempre, acabou virando um “lema” para mim. Não gosto de rótulos (lema é um rótulo bem normalzinho na sociedade). Muitas vezes sequer chego a uma conclusão, mas penso que só o fato de não aceitar o “prato feito” como ele vem, já é um grande começo.

Começo aos 42 para 43 anos? Começo sempre. Então, a dádiva da dúvida é a dívida do óbvio. Não aceitar regras estabelecidas faz parte deste grande jogo. Descobrir interpretações diferentes faz a diferença (redundante, não?;mas não vou mudar a frase só porque alguém disse que isso é redundante).

Qual é a conclusão desta viagem escrita? Nenhuma! Interprete. Pense. Porque se eu der a minha conclusão, estarei fazendo o mesmo joguinho de sempre, o “prato feito”. A única certeza que tenho é que a dádiva da dúvida é a dívida do óbvio (frasezinha bonita, não?... sonora). Ou seja: a dúvida é uma dádiva porque faz pensar; o óbvio fica em dívida porque faz o contrário. E deu!

4 comentários:

Thiago Duwe disse...

a dádiva da dúvida é a dívida do óbvio...fábrício, daonde veio isso?? dos 42 anos??? tenho que esperar mais 18 então??? sério, te pergunto porque naquele dia no Blu me falasse isso, parecia desprentesioso na hora mas me chamou a atenção. Quando lí no teu livro ví substância, era algo mais mesmo. E com essa postagem, me pergunto novamente: daonde veio isso??

fantástico.

abraço.

Thiago Duwe.

Anônimo disse...

A frase é boa, o livro também o é. Mas eu, que estou ainda muito longe dos 42, me perco em meio a tantas dúvidas e tantos questionamentos. O ruim não é ter dúvidas, isso é o que me mantém ainda respirando. O ruim é viver em meio a essas dúvidas e se sentir sozinho por causa disso. Pq as pessoas, em sua maioria, preferem a respostas às perguntas?

Tonet disse...

Coisa de viado
(citando Arthur T. D. Monteiro)

Marina Melz disse...

O mais legal de ver um blog é quando você imagina a pessoa falando tudo o que está escrito. e eu consigo imginar.

por duvidar mesmo depois de tanto tempo, que eu sempre vou te dizer que tu é, de longe, a pessoa mais jovem que eu conheço. mesmo aos (quase) 43.