Todo país, todo lugar, todo momento tem os seus “donos da verdade”. São aquelas pessoas para quem só a opinião deles está correta, eles são absolutos no que dizem, o que os outros pensam está errado, é mentira ou não conta. São ditadores travestidos de pessoas normais. São cabeças psicologicamente perturbadas, que não conseguem ver além do próprio umbigo.
Na história da humanidade
muitos desses tornaram-se conhecidos: Hitler talvez seja o exemplo mais emblemático.
Mussolini, Idi Amin, Stálin, Pinochet, Mobutu, Mao Zedong, Papa Doc, Saddam
Hussein... Todos têm em comum terem ordenado a matança de milhares, em alguns
casos milhões de pessoas, pela cegueira de acreditar que somente a opinião
deles era correta, que aquilo que acreditavam era a verdade absoluta.
A verdade absoluta não
existe. A verdade será, sempre, uma interpretação do fato feita por alguém. O
fato concreto existe, porém a forma de vê-lo depende de cada um, de suas
crenças, cultura, experiências sociais. Um exemplo característico da falta de
uma verdade absoluta, que dou em sala de aula, é o de um acidente em uma
esquina em uma noite qualquer. Provavelmente os dois motoristas terão opiniões
divergentes do fato. Testemunhas interpretarão diferente o ocorrido dependendo
do ponto em que se encontravam. Até a luminosidade interferirá. O fato é
absoluto, a verdade não.
Diante desta realidade prático-filosófica,
continuamos vendo pessoas querendo ser “donos da verdade” por aí, nas ruas, nas
redes sociais. Criam uma versão para o fato e vendem sua “verdade” com ímpeto
fundamentalista. Agarram-se àquela ideia e não veem qualquer outra
possibilidade. Criam uma convicção e estreitam seus horizontes. E sempre há os
incautos que, por falta de capacidade intelectual para criar uma opinião própria,
compram a ideia de verdade do ditador da verdade. Uma lástima.
Os donos ou ditadores da
verdade esquecem que o mundo não é preto ou branco, não é sim ou não, não é a
favor ou contra. É muito mais complexo. Os ditadores da verdade, cegos pela sua
ideologia, tentam cegar aos demais para que creiam naquilo que ele acredita. Os
donos da verdade desprezam a opinião dos outros, desprezam a ideia básica da
democracia, desprezam o respeito. Por isso, nos casos mais graves, matam por
seus ideais, sejam eles políticos, religiosos, futebolísticos ou xenofóbicos. Quando
não matam pessoas, matam a inteligência e a possibilidade de um mundo melhor.
Pior do que os cegos “donos
da verdade”, só mesmo aqueles que criam sua verdade para iludir os outros e
tirar benefício com isto. Na política está cheio disto. Pior do que o fanático,
só o falso profeta, o pregador do apocalipse que sabe não existir.
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