Não tenha
dúvidas. Ou as tenha. São elas – as dúvidas – que nos fazem crescer. Mas
observe que a vida prega peças. As coisas acontecem quando você menos espera,
ainda que você nem queira, não procure. As coisas acontecem e pronto. Simples
assim? Não. Elas acontecem porque em
algum momento, você fez por merecer, seja o resultado bom ou ruim. Há pessoas
que acreditam em Deus, forças estranhas ao nosso conhecimento, numerologia,
astros e mais um monte de possibilidades etéreas. Há outras que acreditam no
destino, como se as estradas de nossa vida fossem abertas muito antes de as
conhecermos e nela trilharemos queiramos nós ou não. Há crenças para todos os
gostos. Acreditar no mérito de conquistar as coisas por si mesmo, no entanto,
parece ser a mais difícil delas. É como se dependêssemos, sempre, de fatores
externos para explicar aquilo que não conhecemos – e o que conhecemos também.
Parece muito mais fácil dedicar nosso sucesso ou insucesso às forças externas,
do que assumir nossos erros ou reconhecer nossa capacidade para acertar.
É até
compreensível – embora não menos preocupante – que o ser humano busque
terceirizar as razões de seus insucessos, de seus fracassos. Reconhecer
limitações e incapacidades exige um ego muito desenvolvido, superior ao
extremo. Definitivamente, não é para qualquer um. É muito mais fácil, prático e
indolor, colocar a culpa nos outros, sejam eles pessoas ou fatores externos,
etéreos, inexplicáveis. O ser humano não gosta de ser derrotado. É próprio de sua
natureza. Ainda que tal falha de caráter seja explicável, é muito triste quando
alguém não consegue reconhecer que ele mesmo é matéria prima da operação e ao
mesmo tempo resultado. Aquilo que colhe é tão somente resultado do que plantou.
Não fosse assim, não haveria méritos e deméritos. Não adianta esconder-se sob o
manto da justificativa terceirizada. Somos o resultado de nossas próprias
ações.
Incompreensível,
no entanto, é que a grande maioria dos seres humanos não consiga capitalizar
internamente para si mesmo o próprio sucesso. Quase inacreditável que aquele
que tem força e competência para conquistar um bom resultado ao final de suas
ações, prefira transferir este mérito a fatores externos, ao invés de
glorificar-se consigo próprio. A humildade é uma virtude (sempre), mas não
reconhecer os próprios méritos é um crime contra a dignidade do ser humano.
Nietzche pregava (ou prega, uma vez que os ensinamentos de um filósofo pairam
sobre nossas cabeças para sempre) que o homem é muito mais do que o próprio
gênero indica; que a vontade de potência pode fazer do ser humano um
super-homem.
Comungo
com esta ideia que fortalece coração e mente, corpo e espírito. O homem que crê
em si mesmo pode ser muito mais que um ser humano, pode ser um homem especial,
realizador, provocador de mudanças, que marque a história – pelo menos à sua
volta – pela sua passagem nesta vida. É possível fazer acontecer. É possível
ser um protagonista e não apenas uma testemunha da história. É possível
satisfazer-se com seus próprios feitos sem carregar a culpa, tão própria dos
fracos, de ser pouco humilde ou de ter ego exacerbado. É possível ser forte a
ponto de se tornar um super-homem – aquele que modifica o mundo à sua volta com
o poder de fazer acontecer por acreditar em si mesmo e em suas potencialidades.
Friedrich
Nietzche vai além e alega que aquele que tira a crença de si para colocar em
outras coisas, torna-se mais fraco. Faz todo sentido, mas isto já demanda tese
para um outro texto. E por mais que a vida pregue peças – algumas tristes,
outras surpreendentemente deliciosas, por mais que as coincidências da vida nos
queiram fazer acreditar em destino, por mais que seja muito mais fácil
terceirizar uma crença para não precisar buscar uma explicação, é bom lembrar
que somos o resultado de nossas ações. A energia do universo pode até conspirar
a favor ou contra, mas por único e exclusivo merecimento do ator da ação. Nada
vem de graça e do céu só cai chuva. E, de vez em quando, um avião ou coco de
passarinho. Isto vale para tudo na vida, basicamente.
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