Para quem gosta de futebol, como eu, sempre há explicações razoáveis para perder uma Copa do Mundo, mesmo que a derrota seja de uma seleção penta campeã como a brasileira. Neste artigo resolvi declinar as três razões que, acredito, tenham sido principais para o Brasil ter perdido a Copa do Mundo em casa. O interessante é que duas delas são fatores psicológicos. E o outro fator também é extracampo, embora reflita diretamente no resultado do desempenho dentro das quatro linhas. Do trio de razões, excluo fatos óbvios como a cultura de organização (não há como comparar, por exemplo, Alemanha e Brasil neste quesito) ou mesmo a competência futebolística nos gramados. Se considerasse isto, teria que concordar que fomos longe demais. Chile apresentou um futebol à altura do nosso; Colômbia até melhor. Holanda e Alemanha mostraram o quanto seu futebol era melhor do que o do Brasil. A Argentina se nivelou ao Brasil. Ambas as seleções, assim como Portugal, apostaram todas as suas fichas em um salvador da pátria. Só que Sassá Mutema era personagem de novela. A vida real, inclusive nos gramados, é bem diferente.
Antes de
explicitar as três razões que considero as principais pela derrota, abro um
parênteses para a chatice dos teóricos da conspiração. Conseguem ser tão
doentes que primeiro acreditavam que a Copa estava comprada pelo Brasil.
Desfilavam argumentos para isso. A nossa seleção seria campeã de qualquer
jeito. Já estava tudo “acertado”. Quando a Alemanha enfiou aquela goleada
histórica, no mesmo momento esses mesmos doentes mudaram de argumento, mas
continuaram defendendo a teoria da conspiração. A total falta de coerência e
sentido desses ‘teóricos’ passou a dizer que estava tudo acertado para que o Brasil
não ganhasse a Copa. Tanto é que Neymar nem se machucou de verdade. Tudo era
uma farsa. Há uma explicação psicológica para essas pessoas que enxergam
conspiração em tudo: a fantasia é que os permite suportar a chata vida real que
enfrentam no dia a dia.
Mas vamos
ao centro da ideia deste texto: para mim, a seleção brasileira
começou a perder a Copa do Mundo na convocação do técnico Felipão. Não que ele
não tenha chamado muitos dos melhores jogadores brasileiros em atividade. Mas
cometeu o grave erro de convocar muitos volantes e somente um armador (Oscar)
para o meio campo. O Brasil era defensivo por natureza. Um time sem saída de
qualidade para o ataque. Uma equipe que não conseguia fazer a bola chegar com
qualidade lá na frente. Tanto é que Neymar não chegou a brilhar e Fred se
queimou. Quando a seleção tentou atacar, sem mais ofensiva, tomou 7. Não havia
armação de jogadas. Era um time sem tática e sem inspiração. Um erro que
começou na convocação. Deu no que deu.
O segundo
ponto crucial da derrota também nasceu antes da Copa e permaneceu durante a
competição: éramos campeões por antecipação. Sempre fui fã de Luiz Felipe
Scolari como técnico. Ele foi o comandante de uma das melhores épocas do meu
Grêmio e conseguiu fazer o Criciúma, por exemplo, ser campeão da Copa do
Brasil. Sempre tirou leite de pedras; fez campeãs equipes como jogadores de
nível técnico médio. Porém a postura nas entrevistas, mesmo antes da Copa,
dizendo que o Brasil seria campeão, que era uma obrigação natural ganhar a Copa
em casa, foi prejudicial à equipe. Ele, Parreira e toda a comissão técnica
colocaram responsabilidade extra sobre os ombros dos jogadores. O país
acreditou, a torcida acreditou, mas não havia futebol para tanta certeza de
título. Esta responsabilidade extra se transformou em pressão e bons jogadores
em seus clubes não conseguiram render nem perto do que estão acostumados.
Aliás, a seleção não foi sombra do que jogou na Copa das Confederações.
Minha
terceira razão – a segunda que Froid explica – para termos perdido a Copa em
casa, podemos debitar na conta da mídia esportiva nacional, capitaneada pela
Rede Globo de Televisão. A contusão de Neymar foi supervalorizada pelos
jornalistas esportivos e, consequentemente, pela torcida. Muita gente deixou de
acreditar. Ouvi e li muitos torcedores dizendo que sem Neymar nossas chances
contra a Alemanha eram mínimas. Quando os demais 22 jogadores do grupo da
seleção precisavam de um tufão de coragem e confiança, a Globo lançava a
campanha #Força Neymar. Tudo bem que o garoto prodígio precisava de alento.
Acabavam de lhe tirar a possibilidade de cravar o nome na história do futebol,
mas ele tem muitos anos futuros para isso. Já para os outros 22 selecionados de
Felipão, havia uma semana para decidir tudo. E ninguém lembrou deles. Pelo
contrário. A potencialização do “estamos ferrados sem Neymar” fez com que
acreditassem nisto também. Só isso pode explicar uma equipe com os melhores
jogadores do país do futebol entrar tão abalada em campo a ponto de tomar 5
gols em 30 minutos, 4 deles em 9 rápidos minutos. Já tentaram colocar a culpa
na imprensa por diversos acontecimentos neste país, geralmente sem nenhuma
razão. Desta vez, no entanto, a imprensa esportiva potencializou o caos, fez
com que a torcida entrasse n a onda (o que não é nada difícil) e atingiram como
um míssel o psicológico do grupo de jogadores que vestiu a amarelinha. Deu no
que deu.
Para
finalizar, duas conclusões óbvias. Primeira: o mundo dos brasileiros não
acabou. Futebol é só futebol. Importante como entretenimento, mas não coloca a
comida em nossa mesa. Segunda: o Brasil confirmou que seriedade e organização
não são o forte dos seus governantes e do país. As obras de infraestrutura – o
legado da Copa – não ficaram prontas. Muitas nem saíram do papel. Os estádios
foram construídos às custas dos nossos impostos, inclusive em lugares que serão
subutilizados, se é que serão, caso mais do que claro do mega-estádio
construído no Amazonas. Quanto ao futebol, continuará o mesmo. O Brasil, maior
celeiro de jogadores do mundo, seguirá confiando na improvisação e nos ‘Sassás
Mutemas’ da vida. O modo de ser está arraigado na cultura brasileira, logo, na
cultura do futebol brasileiro também. Planejamento, determinação e resultados
que não sejam a curto prazo, não estão no DNA do país. Infelizmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário