O dia 1º de maio nunca será
esquecido pelos brasileiros. O Dia do Trabalho (ou do Trabalhador, dependendo
de quem diz), a data marcou a corrida final de Ayrton Senna. Naquele 1º de maio
de 1994, um domingo, acordei cedo, como fazia em todos os domingos em que
havia Grande Prêmio de Fórmula 1. Troquei a coberta quentinha pelo sofá da
sala. Postei-me em frente à tevê, aguardando mais um dia de show. Era bem
assim. Naquela época, o brasileiro era mal acostumado. Ligava a tevê aos
domingos para ver seus pilotos darem show. Ayrton Senna era o líder de nosso
alegria. Naquele fatídico domingo, meu filho de apenas um ano e três meses
também acordou cedo (à época era filho único, hoje é o mais velho, com 21
anos). Tirei do berço e coloquei sobre meu colo para que ele acompanhasse sua
primeira corrida de F1. Afinal, qual pai não quer que o filho curta as mesmas
emoções que ele, seja na velocidade, seja no futebol?...
Ayrton Senna não vivia um
bom momento. Depois de ter sido tricampeão pela Mc Laren em 1991, viu a
Willians tornar-se a máquina imbatível. Quando em 1994 recebeu o convite de
Frank Willians para dirigir o carro sensação do momento, todos tiveram a
certeza de que o quarto título do brasileiro era uma questão de tempo. Mas não
foi o que aconteceu. Michael Schumacher vencera os grandes prêmios do Brasil,
em março, e do Pacífico, em abril, com sua Benetton (ele ganharia 8 das 15
provas daquele ano). Nas duas provas, Senna sequer completou as corridas.
Precisava marcar pontos. Precisava mais. Necessitava vencer. Senna não corria
para pontuar. Por isso – e pelos acidentes registrados naquela mesma pista
durante os treinos, na sexta com Rubens Barrichelo e no sábado com o austríaco
Roland Ratzenberger (que acabou morrendo ali) – as imagens mostram um Ayrton
Senna preocupado, pensativo, quase triste naquele 1º de maio de 1994. Só não
sabia que aquele se tornaria um dia especial para os brasileiros exatamente por
sua causa.
Quando Ayrton Senna bateu
forte na curva Tamburello e a imagem da tevê mostrou seu pescoço caído para o
lado, pressenti o pior. Só havia visto uma vez em muitos anos que acompanho
corridas aquela cena: exatamente no dia anterior, no acidente de Ratzenberger –
e o resultado tinha sido o pior possível. Senna ficou ali, a história vitoriosa
do piloto brasileiro ficou ali. O ídolo do Brasil estava imortalizado. Porém,
quando se fala na história de Ayrton Senna da Silva, o exemplo que me vem à
mente é exatamente o dele nas pistas. Mas não como exemplo de piloto, como
exemplo de vida. Fazer o que se gosta, dedicar-se ao máximo àquele trabalho
exatamente porque gosta do que faz. Ser corajoso, audacioso, ousado. Ser inquieto,
incisivo, obtuso. Ayrton Senna sempre me transpareceu a imagem de que aquele
que se projeta para uma ultrapassagem, que se arrisca no limite para vencer uma
prova, é uma ótima referência para aplicar esses princípios na própria vida. A
vida só é realmente vivida se levada ao extremo. O extremo da dedicação, o
extremo da coragem tendem a levar ao extremo da felicidade. E se não levar,
pelo menos o trajeto foi bem vivido.
A vida não é uma pista de
corridas, eu sei. A paciência, a prudência são virtudes importantes, eu sei. Mas
dificilmente consigo vislumbrar alguém que tenha sido importante para si mesmo
sem a coragem, a audácia, a ousadia que Ayrton mostrava nas pistas. Desta
forma, naquele ano já longínquo de 1994, fiz meus contatos para colocar o nome
dele na minha rua – até então inominada. Hoje moro na rua Ayrton Senna, no
bairro da Velha, com direito a uma curva em “S” (o “S” do Senna) no final e
tudo. Uma homenagem simples, mais do que ao piloto, ao ser humano que fazia da pista
um modo de vida.
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