As greves
pipocam em todo o país, a 15 dias da Copa do Mundo. Em São Paulo , Rio de
Janeiro, São Luís (Maranhão) e Florianópolis, é o transporte coletivo que está
parado. Na capital paulista, professores também estão parados. Em Joinville e
Blumenau, parte dos servidores públicos resolveu cruzar os braços. As
reivindicações são muitas. Algumas justas, outras nem tanto, como a redução de
carga horária de oito para seis horas sem prejuízo aos salários, como quer o
sindicato dos servidores de Blumenau. Isto representaria ou a diminuição do
tempo de serviços à população, com claros prejuízos à comunidade, ou a
contratação de novos 8.300 servidores para um “segundo turno” – qualquer das
possibilidades é inimaginável no serviço público.
Os
sindicatos que buscam repor perdas salariais históricas sabem que nenhum
governo consegue recuperar 15, 20 anos de perdas em 15 meses de governo. Então,
de certo modo, pode-se dizer que toda greve tem um fundo político (nem sempre
partidário). É uma relação de forças. Os sindicatos precisam mostrar serviço
aos seus sindicalizados, como forma de manterem a percepção de que são
atuantes, ativos em prol das categorias que representam. Também precisam tentar
recuperar alguma coisa daquilo que o servidor perdeu ao longo da história
salarial. Isto não só ajudaria o servidor, como também emprestaria grande moral
ao trabalho do sindicato. O problema é que neste jogo de poder, quem acaba
pagando o pato é sempre o contribuinte, aquele cidadão que paga seus impostos.
Por mais
que tentem pregar o contrário, a verdade financeira é que as prefeituras de
todo o país estão quebradas. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, no
ano passado (2013) 92% dos municípios brasileiros fechou suas contas no
vermelho. Isto demonstra claramente que o buraco é bem mais embaixo. Não se
trata de escolha pura e simples de onde investir os recursos financeiros
municipais. Trata-se de não ter recursos para fazer frente à demanda. O real
problema está no pacto federativo nacional, que leva imensa maioria do dinheiro
dos impostos para Brasília, deixando quase nada onde as pessoas vivem, que é
nos municípios.
Se
sindicatos de trabalhadores – bem como os patronais, entidades, políticos de
alta estirpe e todas as outras forças vivas da nação – quisessem realmente
resolver a questão, poderiam pressionar o Governo Federal a mudar este pacto,
provocando uma nova situação nacional de divisão de impostos arrecadados. Só
assim para que os municípios tenham condições financeiras de fazer frente às
necessidades do cotidiano, que somam o encargo de fazer obras e ações para
melhoria da vida das pessoas e atender às expectativas salariais de seus
funcionários. Do jeito que está, a conta não fecha. Quase a totalidade dos
municípios brasileiros que o digam.
A duas
semanas do início da Copa do Mundo no Brasil, o país dá sinais claros de fadiga.
O modo de distribuir a arrecadação de impostos, levando quase tudo para Brasília,
capital nacional dos lobbys e da
corrupção, chegou à exaustão. Aliado ao momento delicado, ainda é possível
prever as manifestações durante a própria competição. O brasileiro mais astuto não
engole o fato de terem prometido mundos e fundos como “legado da Copa”
(melhoria em aeroportos, transporte público e muitas outras coisas etc) e que não
seria utilizado dinheiro público na construção dos estádios. O que se viu foi
exatamente o contrário. Segundo reportagens já publicadas na mídia, cerca de
95% dos recursos financeiros da construção de estádios é dinheiro público. Enquanto
isso, as obras de infraestrutura ninguém sabe, ninguém viu. Nem com propaganda
bonita e cara em televisão, o Governo Federal consegue convencer de que os
brasileiros ganharam alguma coisa com o evento no Brasil. Como disse esta
semana o deputado federal Romário, “vamos torcer pelo Brasil dentro de campo,
porque fora de campo a gente já perdeu com a Copa”.
Resta ver
qual será a imagem do Brasil depois disso – externa e interna.