quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nunca diga nunca a uma ladra de livros

Nunca diga nunca, é uma frase que sempre me chamou a atenção e aprendi a respeitar. Inclusive no que se refere à leitura. Costumo desviar de romances – e entenda-se por romances não as histórias românticas, mas tudo o que não é história verdadeira ou não faz aprofundar o pensamento. Sendo assim, procuro ler ou livros-reportagem (histórias sobre fatos reais) ou filósofos. Bem no antagonismo o concreto e o abstrato. Esses últimos, aliás, são minha leitura preferida.

Por isso, quando minha mãe veio com o livro “A Menina que Roubava Livros” como companhia para este período pós-acidente, torci o nariz. Na verdade tinha em mente conseguir Zaratrusta, de Nietzsche, meu autor favorito, título dele que ainda não li. Mas entre o blog, alguns trabalhos via internet e outras distrações com as quais venho me ocupando neste período, acabei aceitando o desafio e encarando o livro do alemão Markus Kusak.

Pode ser questão de preferência ou até mesmo burrice minha, mas como tento fugir de livros que não são dos gêneros que gosto... as primeiras 20 ou 30 páginas foram um parto. Quase desisti. Pensei: talvez pudesse estar lendo algo que realmente aprecio, ao invés deste. Porém, acabei de ler as 480 páginas do referido livro e fiquei impressionado. Pela história (baseada na Alemanha da 2ª Guerra Mundial, logo com uma referência histórica rica e que a aproxima de uma certa realidade de fatos), pela belíssima forma com que escreve o autor, e pelo final estupendo, daqueles de fazer chorar, literalmente.

Não tenho a mínima pretensão de contar a história aqui. Se você sabe o que é alguém que gosta de livros-reportagem e filosóficos elogiar um romance, tem a noção do que estou dizendo. Escrevi este texto para indicá-lo, se me permitem. Acabei de ler e ainda me pergunto por que comecei. Talvez o fato da história ser contada pela morte, tenha contribuído para minha curiosidade e até certo respeito pelo diferencial do enfoque. A morte sempre me chamou a atenção.

Uma história contada pela morte requer atenção e aparece como forma inovadora de escrever, ainda que no século XVII as chamadas baladas, cantadas em festas populares, incluam letras míticas e da teologia medieval. Há uma delas chamada “Um Diálogo entre a Morte e a Senhora”, que pode ter servido de inspiração para a forma de Kusak escrever seu livro. Não sei. Mas digo uma coisa: há ingredientes ali que prendem o leitor e, ao final, você sai muito satisfeito de tê-lo lido.

Assim como a menina que roubava livros, “roubei” três escritos do livro que me agradaram muito e que divido agora, com vocês:

A visão da morte, sobre nós, os humanos (pg 426):

“A conseqüência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma coisa pode ser as duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer”.

A menina ladra, Liesel, em seu desabafo escrito, sobre o fantástico poder das palavras (pg 459):

“Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito”.

E a última e derradeira visão da morte sobre nós (pg 478), quando confessa a Liesel:

“Os seres humanos me assombram”.

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A Menina que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak (1975)
Tradução: Vera Ribeiro (2006)
Editora Intrínseca Ltda / RJ


7 comentários:

CLUBE ANOS 80 disse...

Fabrício, definitivamente não consigo postar no blog. Além daquele comentário anterior estou tentando postar este e também não vai.

Mas enfim, o que quero te dizer pode ser pelo e-mail mesmo. Se quiseres postar depois, por mim, fica a vontade.

Só queria compartilhar contigo essa nova descoberta que são os livros de modinha, aqueles que vendem até na padaria e a gente invariavelmente julga medíocre. Mais ainda se tu te lembrar das nossas conversas sobre livros e autores, que incluíam muita coisa, mas jamais livros da modinha.
Na verdade essa sempre foi a minha opinião até ganhar um desses de uma pessoa para a qual seria impossível recusar um presente. Li, muito mais para satisfazer a curiosidade e o gosto alheio do que por vontade própria. Certamente não preciso te dizer o encantamento ao chegar ao meio do livro. A leitura, que não tinha nada de medíocre, era fascinante e logo comprei outros do gênero. Este primeiro, ao qual me refiro era o “Caçador de Pipas”, leitura que me arrisco a julgar tão dolorida e intensa quantos alguns dos livros do Eduardo Galeano ou Mario Vargas Lousa, por exemplo. Se tiveres tempo, e imagino que ainda terás por enquanto, leia esse também. Vale a pena. E como vale.

Julia M. Voigt

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Mano, tive o prazer de presentear este livro a uma pessoa, mas, infelizmente, ainda não o li.

Espero ler em breve para compartilhar opiniões.

Sangue Bom disse...

Parabéns a voce pela inciativa e respaldo da campanha Reage Blumenau.
Voce definitivamente é um cara que "pensa e insiste".
Um abração!
Márcio Santos
(www.marciosantosblu.blogspot.com)

Thiago Floriano disse...

Durante muito tempo fugi de romances para ler voltaire, thoureau e cia. ltda.. Repudiava, especialmente, esses tantos livros que figuram na lista dos mais vendidos, até que resolvi me livrar dos preconceitos (algo que seguidamente tento fazer). "A menina que roubava livros" é uma excelente leitura, assim como "Quando Nietzsche chorou", entre os mais vendidos. Mas procurando bem em outras prateleiras mais escondidas, dá pra encontrar muito romance bom. Abraço.

kannaPires disse...

Sem preconceitos ! Nada se leva desta vida ,e o que mais nos vale enquanto vivos eh o convivio e a experiencia. Obras assim embora nao filosoficas as vezes nos
trazem coisas mais importantes e reais, pois na maioria das vezes o autor nos passa nas entre linhas algo da realidade dele da experiencia humana, veja bem quanto
coisa jah nos trouxeram autores como Shakespeare, Gracilianos Ramos e tantos outros . Tais fatos como este contigo jah me acorreram ,quando da audicao de um
novo genero musical, eh logico que se voce nao gostou do genero nao precisa ouvi-lo novamente mas que valeu a experiancia , ah sim ..., "tudo vale a pena se a alma nao eh pequena" F.Pessoa. Eh logico que o Kanna tah mais
pra musica do que o Fabricio para os livros.

kannaPires disse...

Parabens pelo objetivo conquistado. Reage Blumenau eh belo exemplo pra outras cidades. Aquela antiga frase ainda vale muito, "O POVO UNIDO JAMAIS SERAH VENCIDO"