O ser humano (o tal homo
sapiens) se acha. Considera-se o soberano do planeta, aquele que tem o poder
racional de subjugar as outras espécies e a natureza. Foi com esta sapiência
toda que o homem criou Deus. Primeiro, muitos. Os deuses da Grécia Antiga
dividiam poderes. Até ali, os homens criavam divindades distintas tentando
respeitar suas próprias diferenças.
Porém o ser humano, este ser
de incrível sabedoria, notou que poderia dominar melhor as coisas, as espécies
e aos outros homens ao se proclamar único. Para ser forte precisava ser uno. E
para ser mais forte, precisava criar um único Deus. Um Deus onipresente e
onipotente. Um Deus só que comandasse o reino dos céus e da terra, soberano
como o homem se acha. Um só Deus que fosse temido por todos, obedecido por
todos, que, através dos homens, escolhesse os bons e os maus, e os pecadores, e
os profetas.
Ao criar um Deus uno, o
homem obteve a voz do comando eterno. Não se tratava mais de homens mandando em
homens, mas de homens mandando em homens por meio de um Deus insuperável,
inabalável e inatingível. Quem ousaria desafiar Deus? Quem ousaria descumprir suas ordens? Quem ousaria desacreditá-lo? E depois dele, a religião, as igrejas, os
livros com as ordens em forma de historietas, profetas embutidos do poder de
falar em nome do criador-criado.
Assim, pode o homem colocar
a todos de joelhos. Todos são mansos cordeiros ao obedecer as regras criadas
pelos próprios homens em nome de um Deus. Desta forma, o inteligente ser humano
manteve a sociedade sob seu domínio. As leis divinas divinamente humanas dão o
condão da mínima ordem social. Todo aquele que não as cumpre não merece o reino
do céu. Não se comportou, não tem prêmio. Duvidou, não é merecedor. Discordou,
é penalizado. A homogeneização da crença para que a raça humana continue
demasiadamente divina.
O homem criou Deus à sua
imagem e semelhança – não ao contrário, como o próprio homem engana para
continuar sendo aceito como líder e subjugando os da própria espécie. Porque
era exatamente isso do que precisava. Tornar-se divino. De quebra, dividiu a
espécie em castas conforme sua aproximação com a divindade – o Deus-homem. Com
esta divisão, sedou o ímpeto e o prazer em troca de uma absolvição pré-pecadora.
Todos são culpados pela sua própria natureza (animal) a não ser que se
subjugue.
Quem mais acredita na
história, quem mais se ajoelha, quanto mais cordato, quanto mais o homem deixa
de acreditar em si mesmo para colocar sua fé em outrem, quanto mais fraco se
torna o eu para fortalecer o “Deus”, mais próximo da pregada salvação estará.
Com a criação de Deus, o homem – que até então era o senhor das demais espécies
– tornou-se o dominador da própria espécie, senhor do céu e do inferno, das
fantasias e das pretensas verdades. O homem criou a divindade única à sua
própria imagem e semelhança, com todos os seus mistérios etéreos, para se
tornar Deus. O homem, senhor do Universo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário