Estive na Prainha para ver o novo Moinho e, claro, a nova Praça Juscelino Kubstcheck. Afinal, estou escrevendo um livro sobre os bastidores do Skol Rock, que aconteceu ali, nos anos 90, e tinha que dar uma olhadela na prometida bela Prainha pós-concessão do lugar à rede de restaurantes paulistas. Imaginei que encontraria uma nova praça, bela, com chafariz funcionando, luzes coloridas em suas águas, um belo playground para as crianças, bancos para seus pais sentarem confortavelmente, lixeiras por todo o lugar e talvez mais alguns equipamentos próprios de um lugar agradável cujos cuidados foram terceirizados para a iniciativa privada. E todos dizem que a iniciativa privada trata muito melhor de coisas e negócios do que o poder público.
Desci aquela tradicional e inesquecível rampa que leva os carros à Prainha e de cara levei um susto. O chafariz não existe mais. Em seu lugar fizeram uma rótula, um misto de viradouro e estacionamento para os veículos que vão ao novo restaurante. No centro da rótula, uma grande haste de madeira, tal qual um pau de sebo de festa junina, sem qualquer função. As águas coloridas e dançantes do chafariz terão que ficar na memória de quem viu. Metade da beleza do lugar se foi. Além disso, a rótula conseguiu roubar, em prol dos carros, o lugar que era das pessoas. Em torno do chafariz elas podiam sentar nos banquinhos, conversar, conviver. Agora, não mais. Não bastasse a prioridade para os veículos nas ruas, agora eles conquistaram também a praça.
A decepção primeira, que causa choque em quem conhecia a Prainha de outrora, não é a única. O navio Vapor Blumenau, que ficava ao largo do rio e era visto por quem chegava da rua Itajaí, foi deslocado. Agora fica longe das águas, bem na frente da abandonada concha acústica. Claro. No lugar onde estava, foi construído parte do mega-restaurante Moinho do Vale. Enxotada, a embarcação parece receber o devido valor que lhe é oferecido pelos blumenauenses. Depois de totalmente recuperada via recursos de leis de incentivo, o velho barco está enferrujado e até suas escotilhas foram furtadas.
Porém a situação do Vapor Blumenau combina com a da nova praça. Dali, desleixado, ele assiste ao abandono a que foi submetido a Prainha. O playground não existe mais. Para quê, não é mesmo? Enfiemos nossas crianças em frente do computador! Não há mais bancos para as pessoas sentarem. Não há mais lixeiras. A pista de caminhada está destruída. Mesinhas e banquinhos de concreto que serviam até mesmo para um joguinho de xadrez, também. A concha acústica está lá no fundo, mais do que abandonada. Parece se esconder de vergonha, atrás do navio. Até o gramado está surrado. Tal qual aqueles campos de futebol de várzea, com clarões entre um pedaço de grama e outro. A única melhora na praça, foi a iluminação.
Vou ser muito sincero. Saí de lá com um fantástico mix de revolta, tristeza e vergonha. Sei que ainda vão dizer que foi por causa da enchente/tragédia de novembro passado (2008). Não cola. A água não subiu tanto, não removeu o parquinho das crianças e nem arrancou o chafariz, por exemplo. Não cola também porque já se passaram mais de seis meses do ocorrido e a cena é de pós-guerra. E não cola, principalmente, porque os cuidados daquela área foram terceirizados para a empresa que explora o novo, belo, grandioso e magnífico restaurante Moinho do Vale. O problema é que a imponência do empreendimento comercial contrasta com a pobreza e o desleixo em que deixaram a Prainha.
Ainda quero tirar algumas fotos mostrando este contraste e publicar aqui no blog. Farei isso logo. Tem uns ângulos ótimos, mostrando a destruição do abandono com a imponência e o luxo do restaurante ao fundo. Mas o que gostaria de verdade, sinceramente, é que nesse meio tempo os responsáveis pela área – o que inclui o poder público – tomassem providências. A Praça Juscelino Kubstcheck é, hoje, a vergonha dos blumenauenses. Temos uma nobre área abandonada, um lixão às margens do rio Itajaí Açu. E um restaurante a chamar os turistas para ver aquilo que nos envergonha.
Investiram no negócio, mas não deram a mínima para o ser humano.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Putz nem me fale, estes dias fui lá e vi bem isso, tudo detonado e jogado, mato e etc... cambada mesmo... desleixo total e descaso... sem ser bairrista, mais aí esta...o que é SP? tudo pixado e detonado e etc...etc...
( todos sabem disso ) não espere mais que isso deles...Porque não valorizar nossa gente? ooo prefeitura ooo prefeitura... como fica a nossa antiga Prainha de tantos eventos e coisas boas?
Cruel
Michel Velem- de saco cheio de sacanagem
Também vi o estado lastimável da Prainha. E pensar que deitei no gramado extenso, bebendo cerveja, para asistir ao Biquini Cavadão e outras boas bandas brasileiras naqueles memoráveis Skol Rock... O que pareceu uma praça européia agora parece um terreno baldio.
A Prainha não existe mais...Hoje é apenas lembrança nos corações de quem viveu ela, de quem presenciou seus shows e eventos.
Inesquecível, assim como o show dos Mamonas Assasinas, que tive o privilégio de assistir. Tem coisas que não voltam mais...
"I didn't realize it" Vi voceh escrever sobre a tal Prainha e hoje vendo as fotos percebi que jah tinha visitado este lugar no fim dos anos 90, embora tenha sido durante a noite me marcou muito ... e na epoca achei de um visual e uma beleza marcante, inesquecivel..... Cara, o que fizeram com este lugar??? Nao eh possivel um desleixo destes...
Amigo vai em frente, as coisas boas nao devem somente estar em nossa memoria, devem permanecer vivas para que possamos desfru-las.
Fabrício,faz muito tempo que não se dá a mínima para o ser humano. Aliás, existem pouquíssimas pessoas neste planeta que ainda podem ser denominadas como seres humanos.
Irmão, pq não fazemos uma campanha, tipo o Reage Blumenau, para a "reurbanizacao da Prainha" que tanta história tem e se não bastasse isso ainda "era" um dos cartões postais de Blumenau.
Poderiamos estar enviado emails a camara e prefeitura. Pense nisso! Eu to dentro novamente! Abraços
Marcio Santos
(www.marciosantosblu.blogspot.com)
uma vergonha aquilo la que se chama de prinha + parece uma mata fechada bem a cara da prefeitura de blumenau sc.
eu tive la tb quando o mamonas assasinas fizeram uma baita festa depois disso acabou tudo fazer o que né.isso e brasil
Postar um comentário