sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O tempo, a vida e Mário Quintana

O poeta gaúcho Mário Quintana é uma daquelas poucas pessoas que colocou a alma em seus escritos. E sua experiência de vida. Particularmente admirador de seus textos e do que eles passam, tive a oportunidade de sugerir seu nome para emprestar mais poesia a uma das duas ruas com a qual minha casa faz limite: chama-se rua Poeta Mário Quintana, com muito orgulho.

Aproveito para divir um texto de autoria de Quintana que faz pensar muito. E se este é o objetivo do blog...


"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."

Mário Quintana

domingo, 23 de agosto de 2009

O julgamento e o coração

Às vezes tenho a impressão de que o mundo é formado por juízes. Todos se sentem no direito de julgar os outros. Parece natural, algo intrínseco ao ser humano. Mas não é, ou não deveria ser. Ninguém deveria se achar no direito de julgar os outros. Isso naturalmente demanda imaginar-se em uma posição superior, ver-se melhor do que os outros. E, sinceramente, isso não existe. Todos são melhores em algumas coisas e piores em outras. Ninguém é realmente superior a ninguém.

O problema é que as pessoas o fazem. Nos momentos mais normais, quando estão conversando sobre determinada situação que envolve outras pessoas, lá vem o julgamento. Isso é certo, isso é errado. Não seria mais correto pensar “isso não serve para mim, eu não agiria assim... mas a vida da outra pessoa não é a minha vida. Ela deve ter suas razões, que eu desconheço”? Agir assim, pensar assim, no entanto, requer um grande esforço, auto-domínio e reconhecimento de que não se é melhor do que ninguém, não se é o ‘julgador’ dos outros, nem do mundo.

O julgamento (pré-julgamento, na maioria das vezes, porque não se conhece com profundidade aquilo que se está julgando, não se conhece de verdade as razões íntimas das pessoas de agirem assim ou assado), no entanto, revela outros dois problemas: a maldade e a hipocrisia. Quando se julga alguém, ou se faz com uma dose de maldade também inerente ao ser humano (porém ao ser humano menos elevado espiritualmente, com menor auto-conhecimento) ou se faz com uma inegável dose de hipocrisia. Ditados populares e até mesmo dizeres bíblicos rechaçam esta situação, como o “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou/errou”. É muito fácil criticar os outros, pré-julgar, quando não se olha para o próprio rabo. A hipocrisia permite isso.

Assim, damos continuidade a um mundo de julgadores maldosos e/ou hipócritas. Um mundo naturalmente pior do que aquele que poderíamos ter se tivéssemos a consciência de que estamos – todos nós – muito longe da perfeição. Isso não nos faz piores (não sei até mesmo para que tentar chegar a ela). Mas com toda certeza não nos faz tão melhores do que alguém a ponto de julgar suas ações – porque, antes disso, estamos julgando suas razões ou seus sentimentos. E isso – por mais que a grande maioria, quase todos tentem – não temos a mínima condição de fazer.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vamos voltar ao cinema

Saiu no jornal, recebi por e-mail. Para ver que mesmo o Festival de Cinema de Gramado, com seus 3o anos de existência, ainda tem que ser hipócrita e puxa-saco...

Rancorosa, Xuxa ofende Gramado: Eles tiveram de me engolir

Celso Sabadin, enviado especial a Gramado

Noite de horror e indignação em Gramado. Alguma mente desprovida de qualquer senso cinematográfico decidiu coroar Xuxa Meneghel como a Rainha do Cinema. É inclusive a manchete do Diário do Festival, que circula aqui no evento: Gramado Reverencia sua Rainha. E, pior: Kikito especial homenageia a rainha do cinema, da música e da televisão. No país de Fernanda Montenegro, de Aneci Rocha, de Laura Cardoso, de Helena Ignez, de Tônia Carreiro, de sei lá... Hebe Camargo, caramba... O Festival de Gramado, pateticamente, tenta vender ao público a mentira que Xuxa é a rainha do cinema. Tudo por um punhado de mídia. Como se vendem barato os organizadores do Festival de Gramado que decidem quais serão os homenageados!

Ontem (13/8), a noite de entrega do tal Kikito especial para Maria da Graça Meneghel foi um show de breguice deslavada que os 37 anos de Gramado não mereciam ter visto. Antes de mais nada, desde o dia anterior, montavam-se esquemas de segurança para a chegada da "Rainha". Não pode isso, não pode aquilo, vai ser assim, vai ser assado, ninguém pode falar com ela, ela não vai responder a nenhuma pergunta, não pode chegar perto, bla, bla, bla... Nem Barack Obama, se a Gramado viesse, mereceria tanta distinção.

Claro que tudo começou com atraso. Xuxa chegou ao chamado Palácio dos Festivais (cada Rainha tem o Palácio que merece) cercada do gigantesco alvoroço dos fãs. Alvoroço, aliás, que é a finalidade básica dos organizadores do festival ao convidá-la. Flashes, corre-corre, gritinhos, aquela coisa toda que o mundo das celebridades conhece bem. Ao ser chamada para a homenagem, a Rainha elegantemente desfilou pelos corredores do Palácio e, a poucos metros do palco, foi gentilmente abordada por um jovem súdito, aparentando pouco mais de 20 anos, que lhe pediu um beijo. Xuxa, ainda elegantemente, deu um leve beijo no rosto do rapaz e seguiu rumo ao palco, sem problema nenhum. Imediatamente, dois enormes seguranças imobilizaram o jovem, que levou uma chave de braço, foi rapidamente imobilizado e truculentamente retirado do local sob os gritos de protestos de alguns poucos que viram a cena.

Gramado precisava disso? De um showzinho particular de truculência e ignorância?

Já no palco, Xuxa recebeu seu troféu das mãos da atriz mirim Ana Júlia, foi ovacionada por parte da plateia, e dirigiu-se ao microfone onde desferiu a primeira bobagem: "Eu sou povo", ela disse. Bom, eu não conheço ninguém do povo que ostente seguranças truculentos para dar chaves de braço nas pessoas. Em seguida, num discurso rancoroso e até agressivo, Xuxa afirmou que nunca imaginou receber uma homenagem como aquela. "Nem eu", pensei, calado. E foi além: disse que jamais poderia pensar que o Festival de Gramado fosse capaz de superar os preconceitos e premiar uma pessoa do povo e suburbana como ela. Ou seja, chamou abertamente o Festival de preconceituoso. Como se, em edições anteriores, o evento só tivesse premiado magnatas e intelectuais.

Gramado precisava disso? De uma ofensa gratuita vinda de um homenageado?

A Rainha terminou sua fala dizendo: "Eu não me arrependo de nada. Eu não tenho vergonha de ser povo, de ser loira e vencedora". Ao que parte da plateia completou: "...E gaúcha!". De onde a loira tirou esta frase? Que nonsense foi este? Se eu não estivesse presente, não teria acreditado.

Porém, o pior estava por vir: ao descer do palco e voltar para os corredores do Palácio, Xuxa percebeu a presença do jornalista Luiz Carlos Merten, que por sinal estava sentado praticamente ao meu lado. Deu-lhe um amplo sorriso, abraçou o jornalista e sussurrou ao ouvido dele: "Eles tiveram de me engolir". Fiquei pasmo. Eles quem? Os organizadores de Gramado? Os críticos de cinema? O povo? Teria o espírito de Mário Jorge Lobo Zagallo incorporado provisoriamente na Rainha?

E, depois, se ela diz não se arrepender de nada, por que sua filmografia "oficial", publicada pelo Catálogo também oficial do Festival de Gramado, omite seus longas Fuscão Preto, Gaúcho Negro e Amor Estranho Amor? Os dois primeiros seriam bregas demais para a realeza? E o polêmico Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khoury? Algo contra a nudez da rainha? A rainha está nua?!

Segundo informações do Jornal de Gramado, além de todas estas barbaridades (para usar um termo bem gaúcho), Xuxa ainda teria cobrado um cachê de R$ 60 mil para aceitar ser homenageada.

Sinceramente, Gramado precisava de tudo isso?

Num momento de lucidez e equilíbrio, o ator José Victor Cassiel, apresentador do evento ao lado de Renata Boldrin, anunciou o próximo filme concorrente e conclamou a todos: "Vamos voltar ao Cinema". Perfeito! Xuxa, com seus filmes de péssima categoria, conteúdo risível, produção tosca e nenhum objetivo cinematográfico, além do merchandising e da bilheteria, pode representar qualquer coisa. Menos o cinema. Se o Festival de Gramado é um templo do cinema brasileiro, este foi profanado na noite de ontem.

E, Xuxa, rainha do cinema? Só se for a Rainha Má da Branca de Neve.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Gripe Suína, realidade e pânico

Blumenau completou 10 casos confirmados da gripe suína (eles odeiam que a chamem assim. Querem o nome politicamente correto de gripe Influenza A tipo H1N1) em Blumenau. Uma morte confirmada, outra a confirmar - por exame que já foi efetuado, mas cujo resultado ainda não chegou. Escolas de estados vizinhos adiaram as aulas de rede pública estadual. Pululam e-mails (e a internet tudo aceita) de supostas conversas por msn de pessoas ligadas à área da saúde. A conversa teria conteúdo alarmante. No Paraná os torcedores tiveram que utilizar máscara no estádio de futebol, em partida do Campeonato Brasileiro, por ordem judicial. Em SC, gestantes foram afastadas do trabalho nas secretarias de educação do estado e da cidade. Ficarão três semanas em casa. Aqui em Blumenau, eventos esportivos e culturais foram adiados. O assunto toma conta da mídia.

É tanto barulho por causa da gripe suína (como eu gosto de provocar...) que das duas uma: ou esta vai pegar forte por aqui, ao contrário da marolinha da crise econômica mundial anunciada pelo presidente Lula, ou as pessoas estão entrando em parafuso, assustadas e logo poderão estar em pânico.

Pelo sim, pelo não, vale tomar algumas precauções simples como lavar as mãos após cumprimentos, não levar às mãos à boca, nariz, olhos e partes mucosas, manter os locais ventilados e arejados, não compartilhar copos e outros utensílios pessoais que tenham contato com as mucosas, entre outros.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ser politicamente correto é um saco

Você já notou como neste novo mundo politicamente correto todo mundo policia todo mundo e você mesmo se policia o tempo inteiro?

Pois é. Desde que inventaram o termo “politicamente correto”, ser dedo-duro, inquisidor, discriminador do pensamento alheio externizado passou a ser uma virtude.

Agora não pode mais nada. Dou um exemplo: antes uma pessoa com problema físico era chamado aleijado. Aleijadinho, diga-se de passagem, era o apelido (e nada indique que fosse pejorativo) de um dos maiores artistas plásticos brasileiros. Mas aleijado foi considerado um nome feio, uma ofensa às pessoas com defeito físico. Arrumaram, então, o codinome deficiente físico. Aí, tempos depois, resolveram que deficiente é uma palavra pejorativa. Pura bobagem. Deficiência é uma deficiência e nada mais. Se uma pessoa tem algum problema que lhe impeça algumas atividades, ela é deficiente. E ponto.

Aí os deficientes intelectuais (desculpem-me se fui politicamente incorreto), em mais um arroubo de pseudo-intelectualidade, resolveram que este termo também não era bonitinho. Inventaram o “portador de necessidades especiais”. Fala sério! Isso não diz nada. Não me diz, por exemplo, no que posso colaborar com aquele que tem a deficiência em alguma coisa. Se estou na frente de alguém com deficiência auditiva e tento me comunicar falando, alguém me diz: “ele é surdo” ou “ele tem deficiência auditiva”, conseguiria eu mudar a forma de me comunicar. Mas se alguém me diz “ele é portador de necessidade especial”, esse alguém me disse o quê? Nada.

Então, hoje em dia, não se pode mais dizer as coisas que são o que realmente são e muito menos brincar com assuntos gerais, que os pseudo-intelectuais dedos-duro da ditadura do pensamento e da fala já apontam o dedo em riste considerando as pessoas racistas, homofóbicas ou gays, machistas ou feministas, anti-semitas ou anti-hitleristas, crentes ou anti-cristãs, insensíveis e o escambau a quatro.

Sinceramente, esses dedos-duro são uns chatos. E hipócritas. Eles ou pensam igual e gostariam de dizer aquilo que os “acusados” por eles dizem, ou eles simplesmente não conseguem sentir liberdade nem no que pensam. Acham que tudo aquilo que é dito de forma natural e descomprometida, livre, leve e solta, é uma ofensa a alguém, é um achincalhe público, é um desrespeito a outrem. Nada disso. Eles, os politicamente corretos do pensamento e da fala, é que são uns hipócritas. Porque suas atitudes policialescas da (argh!) moral e dos bons costumes (que coisa antiga!) é que são politicamente incorretas.

Realmente deve ser muito triste ser politicamente correto. Um verdadeiro pé-no-saco. Pessoas chatas ao extremo – e Cazuza já dizia: não há perdão para o chato.

Viva a liberdade da fala e do pensamento.

Danem-se!